O Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (Graer), da Polícia Militar de Santa Catarina, prossegue o trabalho de buscas ao padre paranaense Adelir De Carli, de 41 anos, que está desaparecido desde a noite de domingo (20), quando tentava fazer um vôo de 20 horas, sentado em uma cadeira, amarrada a mil balões de festas, cheios de gás hélio. O último contato aconteceu por volta das 21 horas, quando avisou que estava pousando no mar, a cerca de 15 quilômetros a leste das ilhas Tamboretes, há 5 quilômetros da costa da ilha de São Francisco do Sul, litoral norte de Santa Catarina.
No site da Pastoral Rodoviária, a qual o padre está ligado desde sua ordenação há cinco anos, ele diz ter criado o evento Voar Social, como forma de atrair os canais de mídia e divulgar a pastoral, que presta assistência espiritual e social aos caminhoneiros. Ele declara ter "vasta experiência" como esportista de montanhismo, mergulho, pára-quedismo e vôo livre (parapente). De Carli já tinha levantado vôo, com a ajuda de 500 balões em 13 de janeiro deste ano, em Ampère, no sudoeste paranaense. Atingiu 5.337 metros e desceu quatro horas e 15 minutos depois, a 110 quilômetros dali, em San Antonio, na Argentina. Segundo ele, o recorde de altitude anterior era de 3,9 mil metros, de um norte-americano.
Desta vez, De Carli pretendia bater o recorde de tempo, que é de 19 horas, e ficar uma hora a mais nos ares. Esperava que os balões o levassem para o interior do Paraná, a partir de Paranaguá, no litoral do Estado, de onde decolou por volta das 13 horas de domingo (20), com seu equipamento que, associado a ele, pesavam 250 quilos. Foi uma manhã festiva, apesar da chuva que insistia em atrapalhar os planos do padre. Mas ele preferiu não levar isso em consideração, rezou uma missa para dezenas de fiéis que acompanhariam sua aventura. Pouco antes de subir aos céus, foi questionado por repórter da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) se não seria teimosia enfrentar a chuva. "Não, porque vou subir acima dela", ponderou.
A subida foi rápida e o desaparecimento no meio das nuvens igualmente. A preocupação da equipe de apoio também veio cedo, pois às 14h45 ele já estaria a 5,8 mil metros de altitude, quase o dobro do previsto e, ao contrário do oeste, dirigia-se para o leste, em direção ao oceano. Em contato telefônico com produtores da RPC, o padre disse que estava bem de saúde e com a consciência tranqüila, mas relatou muito frio e desconhecimento sobre o equipamento: "Eu preciso entrar em contato com o pessoal para que eles me ensinem a operar esse GPS aqui, para dar as coordenadas de latitude e longitude que é a única forma de alguém por terra saber onde eu estou. O celular via satélite fica saindo fora da área e, além do mais, a bateria está enfraquecendo."
Nos contatos feitos com sua equipe ele disse que chegou a se distanciar até cerca de 50 quilômetros da costa de São Francisco do Sul. Por volta das 20 horas, já tinha voado 145 quilômetros desde Paranaguá. O último contato foi com o comandante do Graer, capitão Nelson Henrique Coelho, por volta das 21 horas, quando avisou que estava pousando no mar e deu as coordenadas que apontam para as ilhas Tamburetes. De acordo com o capitão, De Carli disse que não tinha mais lastro para permanecer no ar.
O lastro é formado por água que o padre joga fora para diminuir altitude ou pousar. Foi aconselhado a não se desgrudar dos balões, que poderiam ajudar na flutuação e na visualização. Por volta de meia noite e meia, os primeiros balões foram avistados na praia da Penha, a cerca de 60 quilômetros ao sul de São Francisco do Sul. Nesta segunda-feira (21), por volta de 11 horas, mais balões foram vistos na Ilha dos Remédios, próximo a Barra do Sul, no sul da ilha de São Francisco.
Um irmão do padre, Marcos De Carli, acompanhava o resgate, nesta segunda-feira (21), em São Francisco do Sul. Ele disse à Rádio CBN em Curitiba que Adelir tinha cursos de pára-quedismo e mergulho. "Não tinha nenhum problema em voar, era só trabalho social para arrecadar fundos para a igreja", afirmou. Segundo as informações, ele usava uma roupa térmica capaz de suportar até 10 graus negativos, além de vestir um macacão. Desde o momento em que caiu no mar até a tarde desta segunda-feira (21), a temperatura das águas do litoral norte catarinense variaram entre 21 e 22 graus, o que garantiria a sobrevivência, dependendo das condições físicas e psicológicas da pessoa.
As buscas eram feitas por cerca de 100 pessoas, que tinham o auxílio de um helicóptero da Polícia Militar de Santa Catarina, duas embarcações da Marinha e um avião Bandeirante da Força Aérea Brasileira, além de um avião do governo do Paraná e vários pescadores voluntários. Apesar do vento de cerca de 60 a 70 quilômetros no mar, o tempo e a visibilidade eram bons até a tarde desta segunda-feira (21). Na Paróquia São Cristóvão, em Paranaguá, onde De Carli é pároco, fiéis passaram o dia em orações. No Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 2), em Curitiba, que podia informar sobre as licenças para esse tipo de vôo, não havia expediente nesta segunda-feira (21).
