Propagandas incentivam a automedicação

Com a chegada do inverno, é comum o aumento da automedicação. Os idosos são, em geral, os protagonistas dessa situação, pois sofrem mais com problemas respiratórios, dores articulares e depressão. Eles também são as principais vítimas das indústrias farmacêuticas, que acabam incentivando o consumo desnecessário de medicamentos pela propaganda nos meios de comunicação. As empresas chegam a gastar 18,5% do seu faturamento com a divulgação dos produtos.

As constatações são do médico cardiologista Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior. Ele afirma que a automedicação, em alguns casos, pode ser fatal. “O problema de se ingerir um medicamento por conta própria é que muitas vezes ele mascara uma doença, e a combinação de remédios pode ser desastrosa em muitas situações, pois pode causar um efeito contrário”, afirmou. Entre os grupos de medicamentos mais perigosos estão os analgésicos, antitérmicos, anti-ácidos e os que combatem a diarréia. Silveira Júnior argumenta que esses grupos aliviam uma dor momentânea, que pode estar escondendo um problema grave. Já o uso prolongado pode provocar danos irreparáveis à saúde.

Os remédios indicados para a gastrite, exemplifica o cardiologista, se tomados de forma incorreta por um longo período, podem gerar complicações sérias ao organismo e até levar à morte, dependendo da gravidade do caso. Além disso, completou, pesquisas científicas indicam que o excesso de alumínio pode causar problemas de demência cerebral. “Os anti-ácidos são a base de dióxido de alumínio, e as propagandas nunca divulgam os efeitos colaterais desses remédios”, pondera Silveira. Os idosos são os mais atingidos nesses casos porque a reserva funcional do paciente é 30% menor do que um jovem, ou seja, o fígado ? órgão responsável por esta reserva que protege o organismo da ação de substâncias tóxicas ? trabalha com uma capacidade menor que o normal, assim com os rins também apresentam baixa capacidade de eliminação, e propiciam intoxicação ao paciente.

Propaganda contrária

O médico defende que os conselhos de área médica deveriam tentar combater o aumento da propaganda de medicamentos. Hoje 84% dos anúncios não trazem informações sobre o produto, e isso, aliada à grande quantidade de remédios vendidos sem prescrição médica é a causa de sérias conseqüências para a saúde. Silveira Júnior comenta que nos EUA a agência que controla remédios e alimentos ? FDA (Food and Drug Administration) ? está revisando o guia de comerciais aceitáveis na TV para o consumidor final. A agência está pesquisando se a propaganda realmente leva ao consumo de remédios impróprios e desnecessárias.

No Brasil, avalia o médico, depois da proibição das propagandas de cigarros, houve um crescimento das propagandas de remédios, e as mensagens dizendo que se os efeitos persistirem o médico deverá ser procurado não são válidas. “Dependendo do medicamento o sintoma vai desaparecer, mas deverão aparecer os efeitos colaterais não expostos no comercial”, disse. Para ele, é preciso que a população tenha mais consciência da situação e em qualquer sintoma procure um médico antes de ingerir um medicamento.

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