Há 37 anos, um desastre natural abalou Guaratuba, destruindo a Vila de Guaratuba, a popular ?vilinha?. O acidente não deixou mortos, mas acabou com boa parte do centro histórico da cidade, cuja colonização se iniciou no final do século 18. No final da noite do dia 23 de setembro, um morador alarmado com a movimentação da terra saiu batendo de porta em porta. Em pouco tempo, toda a vilinha estava submersa.
O geólogo João José Bigarella, do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas, foi chamados às pressas para investigar o porquê do acidente e escreveu um dossiê juntamente com Jorge Xavier da Silva e Gerusa Maria Duarte.
?Em resumo, a maré fez um trabalho erosivo por baixo do muro construído para que se fizesse o aterro. As fundações não eram profundas e não havia canais para escoamento da água?, diz o geólogo. Na prática, criou-se um oco sob a vilinha e quando a estrutura perdeu todo o apoio da areia do aterro, o terreno cedeu, levando com ele as construções coloniais, que ficaram sob a água.
?O impacto muito mais que ecológico, foi histórico. Uma parte da história de Guaratuba ficou submersa, talvez por isso até hoje existam planos para recuperar a área.? No local onde antes existia a vilinha, formou-se uma enseada, que teria que ser novamente aterrada para que pudessem ser construídas novas casas no local, seguindo o estilo da construção de cinqüenta anos atrás.
Pensando no resgate histórico, o prefeito Miguel Jamur contatou o governo do Estado para que auxilie na viabilização das obras que visam resgatar o ?espírito? da vilinha. Para conceber a obra, a Prefeitura contratou o arquiteto Carlos Samorido, que assina outra obra na região.
De antemão, Samorido descarta a possibilidade de fazer um novo aterro para posterior construção de casas. ?Seria uma obra de um custo muito elevado, fora de cogitação no momento?, diz. Porém, os guaratubanos mais nostálgicos poderão sentir um pouco do resgate histórico no projeto que está sendo elaborado. ?Na verdade, trata-se se uma releitura do colonial da cidade, com resgate de traços coloniais inseridos no contexto urbano atual.?
O primeiro passo será a restauração da praça que fica defronte a matriz, um dos símbolos da cidade. A intenção é transferir os camelôs que ficam entre a praça e a igreja para outro local, resgatando a integração entre as duas construções. ?Queremos recobrar o estilo bucólico, reformando a praça sem tirar essa vocação.?
Em seguida, a intenção é fechar o trânsito de veículos na rua principal da beira-mar e nas perpendiculares imediatas, liberando o trânsito apenas para pedestres. Por fim, a intenção é incentivar os comerciantes a reformarem as fachadas dos estabelecimentos, deixando-os no estilo colonial, característico das construções da vilinha. ?É um trabalho que vai requerer a ajuda de todos os guaratubanos, em um comprometimento com a memória da cidade?, diz Samorido.
Na faixa criada com a formação da enseada, após o ?desastre de Guaratuba?, a intenção é dar um ar colonial em todas as fachadas. ?Por fim, queremos criar uma casa da cultura, para que os moradores e turistas conheçam melhor a história de Guaratuba.?
Palco
No local exato onde existia a vilinha, há a possibilidade de ser colocada uma vitória-régia de concreto, com pontes móveis ligando-a ao continente. ?Seria um palco para apresentações de música, com shows e orquestras. Certamente seria um grande atrativo para que as pessoas freqüentassem mais a parte restaurada?, finaliza o arquiteto.
Várias obras para receber mais turistas
O envolvimento do governo do Estado em obras no litoral, mais especificamente em Guaratuba, está diretamente relacionado a uma tendência forte: a aposta no retorno dos paranaenses ao litoral do Paraná. Com a crescente recuperação da economia argentina, os portenhos estão retornando em massa para o litoral catarinense e fazendo com que os paranaenses resgatem o próprio litoral. ?É uma tendência clara, inclusive por questões financeiras. Com a recuperação da estrada de Garuva, ficou muito mais fácil e seguro chegar ao litoral?, diz o arquiteto Carlos Samorido.
Guaratuba tem uma série de projetos em ebulição. O primeiro que deve sair do papel, já com financiamento do Banco Interamericano, é o do Morro das Caieiras, já em fase de compra de material. A obra consiste na construção de uma passarela de 470 metros lineares, que vai da Praia Brava até a prainha do ferryboat, passando por cima das pedras. Na metade da passarela, haverá um mirante. A previsão inicial é que a obra fique pronta até o Carnaval 2006.
Outra obra em fase de projeto é a abertura de uma avenida paralela à principal, a Avenida Paraná. A pista servirá para escoamento do tráfego. (GR)
