A manchete de um jornal de bairro na semana passada deixou em polvorosa um dos bairros mais tradicionais de Curitiba: o Batel. Por meio de uma fonte ligada à Prefeitura de Curitiba, o periódico tomou conhecimento de um projeto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) que prevê a modificação da Praça do Batel, para que seja feita ligação entre as ruas Carneiro Lobo e a Desembargador Costa Carvalho.
Tão logo tornou-se público, a nova empreitada da Prefeitura gerou protestos. ?Até agora, recebemos praticamente apenas manifestações contrárias. Teve uma pessoa que disse que se for para melhorar o trânsito, a medida é válida?, diz Luiz Gonzaga de Mattos, diretor do Jornal do Batel.
A justificativa da Prefeitura é melhorar o fluxo de veículos na região. Segundo o coordenador de circulação viária do Ippuc, José Alvaro Twardowiski, o projeto foi concluído após um estudo profundo feito na região e deve começar a ser implantado em 2008. ?Há algum tempo, estamos registrando problemas no entorno da praça, além da saturação do trânsito nas proximidades?, explica.
A ligação entre as ruas faz parte de um projeto de desvio do fluxo entre os bairros Água Verde e Bigorrilho, pois a via ligará os dois.
?O projeto vai desafogar o trânsito nas ruas Coronel Dulcídio e Bento Viana, principais vias de ligação entre os bairros?.
No que concerne ao valor histórico da pracinha, que tem perto de 100 anos, o engenheiro garante que os ícones do local – o busto do Barão do Cerro Azul, os arcos, a banca de jornal e de flores, serão mantidos. ?A praça continuará existindo, mas será reformulada, ganhando 314 metros quadrados. Haverá também um novo trabalho de paisagismo?.
Ciente da polêmica criada com o vazamento do empreendimento, Twardowiski assegura que o Ippuc já havia planejado apresentar o projeto aos representantes da comunidade local. ?Esse encontro já estava programado e deve acontecer nas próximas semanas?.
Revolta
Independente do agendamento da reunião, para a moradora do Edifício Napoleão Esbravatti, Vera Ling, o fato de os moradores do bairro terem tomado conhecimento do projeto pela imprensa causou revolta. ?Não pudemos opinar sobre algo que é de nosso total interesse. Uma obra dessa vai contra a vocação da cidade de priorizar o cidadão e a qualidade de vida?, diz. Ela ressalta que a praça, além do valor histórico que possui, é um local arborizado. Nos finais de semana, há trinta anos, é realizada ao lado da pracinha, no trecho da Carneiro Lobo, uma tradicional feira gastronômica. ?Não há lógica. Mesmo nos horários de maior movimento, poucos carros saem da Desembargador. Ninguém é contra a evolução do bairro, mas precisamos de uma justificativa plausível?, lamenta.
A arquiteta Carla de Souza, que mora no São Braz, diz que tornou-se solidária à causa por ser urbanista. Ela questiona a priorização do trânsito de veículos em detrimento ao bem-estar dos pedestres e transeuntes. ?A intervenção vai provocar a descaracterização da praça e a perda de uma importante referência do bairro?.