Um projeto inédito está ajudando moradores de rua a receber tratamento dentário gratuito e resgatando a autoestima de “excluídos”. Em apenas quatro meses, mais de 2 mil atendimentos foram prestados pelo programa municipal Consultório na Rua.

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O diferencial do programa é que em uma das fases do atendimento as equipes vão às ruas em busca dos pacientes para iniciar o tratamento. “Temos uma equipe variada, com psicólogos e odontologistas, que realizam o primeiro contato nas ruas”, explica o psicólogo Ricardo Lupinski.

Nesse contato, os moradores de rua recebem instruções sobre a importância dos cuidados bucais e kits com escova e pasta de dente são distribuídos. A partir desse momento são marcadas as sessões nas Unidades Básicas de Saúde.

Lupinski acredita que o estigma que os moradores de rua carregam, de serem excluídos e sempre recebidos de portas fechadas, é um dos fatores que contribui para que essa parcela da população não busque o tratamento. “Na prática, apenas aproximamos um serviço que já estava disponível para eles”, conta o psicólogo.

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Foi o que aconteceu com Samuel Soares Berene, que já vive nas ruas há 7 anos e abandonou o tratamento e os cuidados básicos com a saúde dentária. “Fazia tempo que sentia muita dor na gengiva e nos dentes”, conta Samuel.

Após a primeira consulta e com um sorriso no rosto, Samuel fala das precauções passadas pela equipe do Consultório nas Ruas. “Agora carrego sempre a escova e a pasta que eles deram, por que não pode ficar sem escovar”, diz.

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Para o dentista Alan Celso Sierakowski, o programa tem sido aceito pelos moradores de rua pela situação crítica da saúde dentária dos pacientes. “O resultado de uma intervenção odontológica é muito mais rápido do que um acompanhamento psicológico”, explica Sieralowski.

De acordo com o dentista, a dor de dente que os moradores de rua sentem faz com que eles não faltem às consultas e levem mais a sério o tratamento. “Quando eles saem daqui sem sentir aquela dor, ganhamos a confiança deles e conseguimos encaminha-los para outros atendimentos da Fundação de Ação Social (FAS)”, diz o dentista.

Com 30 anos de profissão, Sierakowski conta que na maioria dos casos a situação é crítica, mas a gratidão dos moradores de rua compensa o trabalho. “Uma vez extrai um dente de um rapaz que chegou meio perdido, sem consulta marcada. Fiz a extração por que era um caso grave, e depois ele me deu um abraço e fiquei imaginando o quanto aquilo significava para ele”, conta.