Curitiba é a primeira cidade a tentar a reprodução do papagaio-de-cara-roxa em cativeiro. O trabalho é uma iniciativa da organização não-governamental SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem), com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, já que as doze espécies ficarão em uma área destinada à pesquisa dentro do Zoológico Municipal.
O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) está na lista do Ministério do Meio Ambiente entre os 54 animais do Paraná ameaçados de extinção. Com esse trabalho será possível formar um plantel em cativeiro para estudo da espécie, e talvez, para repovoamento. Os doze animais foram apreendidos pela Polícia Florestal e pelo Ibama, e remetidos ao zoológico. Através de sexagem cirúrgica foram identificados seis casais, o que vai facilitar o propósito do trabalho.
Os casais foram instalados em seis recintos individuais, que medem 14,25 m2, e incluem solário e puleiro, retratando semelhanças do habitat natural. O primeiro a estudar o papagaio-de-cara-roxa no Brasil foi o ornintólogo do Departamento de Zoológico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Pedro Scherer Neto. Segundo ele, o primeiro exemplar com que teve contato foi em 1975, e sete anos depois iniciou um estudo sobre a espécie.
“Nessa época a ave já estava catalogada, porém não se conhecia muito sobre a espécie”, disse. A estimativa hoje é de uma população de cerca de 4 mil aves, concentradas nos litorais do Paraná ? principalmente na região de Guaraqueçaba -, Norte de Santa Catarina e Sul de São Paulo. Isso explica as características da ave, que vive na restinga, freqüenta manguesais, e se alimenta de frutos, folhas e flores. Uma característica é que são animais sociáveis, que andam em casais ou em bandos. Na sua plumagem destacam-se as cores roxo, lilás e vermelho. Quanto à expectativa de reprodução, Sherer disse que é difícil dizer com precisão. Mas como eles têm período reprodutivo entre setembro a março, no fim do ano podem aparecer os primeiros filhotes do papagaio.
Estudo
O reprodução da espécie em cativeiro faz parte do projeto de conservação do papagaio-de-cara-roxa que a SPVS desenvolve desde 1997, com o apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Segundo a coordenadora do projeto, biológa Elenise Sipinski, entre as metas que estão sendo desenvolvidas está a relização de um senso que vai monitorar a espécie no Paraná e São Paulo. Esse trabalho deverá durar dois anos, e aqui no Estado terá a colaboração de alunos da PUC.
“Entre os dias 11 e 13 de julho estaremos com um equipe no litoral do Estado observando os dormitórios dessas aves para iniciar um contagem”, disse a bióloga. Outro estudo que vem sendo feito através da telemetria, que consiste na instalação de colar com radar para acompanhar o deslocamento da ave. Mas a parte mais difícil do trabalho é combater o tráfico do animal. Para isso, a SPVS desenvolve atividades de conscientização com os moradores das ilhas que são habitat das espécies. Os animais em estudo no Zoológico de Curitiba ficarão em área restrita à visitação.
Observação de pássaros, um novo lazer na capital
Com binóculos em mãos e muita disposição para caminhar em meio à mata fechada, um grupo de pessoas se reuniu ontem à tarde, no Parque Barigüi, em Curitiba, para observação de pássaros. Sob a orientação do ornitólogo Pedro Scherer Neto, do Museu de História Natural do Paraná, eles percorreram uma trilha de 1.200 metros atrás de espécies raras.
Segundo Pedro, na região de Curitiba vivem cerca de duzentas espécies de aves. Algumas podem ser vistas com freqüência e em locais abertos, como o quero-quero, o joão-de-barro, o bem-te-vi e o sabiá. Outros, como o pula-pula, o tangará, o chocá da mata e o pavó, que é grande, tem o peito vermelho e está ameaçado de extinção, só em locais de mata fechada.
“Por manter e criar espaços verdes, a capital paranaense tem boas condições de manutenção das espécies de aves urbanas”, afirma Pedro. “A colonização européia contribuiu para que as pessoas tivessem quintais, jardins e chácaras.”
Além das espécies nativas, em determinadas épocas do ano Curitiba recebe a visita de espécies migratórias vindas do hemisfério Norte. “Com a quantidade de pássaros que vivem na capital, a observação de aves como forma de lazer poderia ser bem mais explorada na cidade. É uma forma de aliar diversão com a curiosidade científica”, acredita o ornitólogo Raphael Luiz Moura Sobânia, responsável pela empresa Ninho do Pica-Pau, de ornitologia e observação de aves.
A atividade fez parte da programação de comemorações da Semana Mundial do Meio Ambiente e teve como objetivo resgatar o caráter científico dos parques.