Uma via transcontinental, que liga os oceanos Pacífico e Atlântico, utilizada pelos índios guaranis e incas, antes do século XVI, para cultuar deuses ou fazer trocas de mercadorias entre as tribos. Este é o Caminho de Peabiru, que tem três mil quilômetros de extensão e passa pelos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A trilha também está presente no Paraguai, na Bolívia e no Peru.
Com o tempo, a estrada indígena foi esquecida. Não existem mais vestígios do caminho em alguns lugares. Mas, em outros, a lembrança ainda está viva. Na tentativa de resgatar essa história, algumas entidades e a Prefeitura de Campo Mourão estão desenvolvendo um projeto turístico que pretende transformar o Caminho de Peabiru em rota de peregrinação, como o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.
O projeto será lançado na próxima sexta-feira, em Campo Mourão, durante encontro que reunirá historiadores, pesquisadores, representantes dos municípios por onde passa o caminho, dos órgãos dos governos federal e estaduais ligados ao turismo, da Itaipu Binacional e do Ministério de Turismo do Paraguai. Durante todo este ano, haverá reuniões para a estruturação do projeto.
Segundo a jornalista Rosana Bond, uma das idealizadoras do plano, os registros históricos indicam que o Caminho de Peabiru seja milenar e tem conotações religiosas sagradas. Dizem que a trilha foi aberta por São Tomé, um dos apóstolos de Jesus e era utilizada pelos índios guaranis como forma de chegar ao extremo leste para acompanhar o nascimento do sol, um de seus deuses, e tentar encontrar a Terra Sem Mal, uma espécie de paraíso na religião deles. Para os incas, que viviam na Cordilheira dos Andes, a estrada também servia para a busca do sol, mas era usada principalmente como contato com outros povos para a troca de artigos, como os alimentícios.
O Caminho de Peabiru era formado por uma trilha principal com diversas ramificações. Tinha 1,4 metro de largura, cavado no meio da mata, como se fossem valetas. Em alguns trechos, era forrado com grama para impedir o crescimento do mato. Quando chegava na Bolívia, o caminho se transformava em estrada inca, pavimentada com pedras, até o litoral do Peru. Em outros trechos, como no Pantanal e areais, a trilha era marcada com estacas. O mapa do caminho já foi traçado e, segundo Rosa, ele passa por cerca de 40 municípios paranaenses.
Informação
A grande dificuldade para criar o projeto foi a falta de informações históricas. “Não existem livros sobre o Caminho de Peabiru e, quando citado, é de maneira superficial. Foi no Paraguai que consegui reunir todas as informações”, conta Rosana.
De acordo com ela, a fase atual do projeto está na pesquisa das localidades onde ainda existem vestígios da trilha. Na cidade de Pitanga, o resgate histórico está bem adiantado e o caminho já foi identificado. “Acredito que daqui a seis meses a peregrinação já vai poder funcionar nesta região”, comenta Rosana. A intenção do projeto é fazer com que cada município realize esse trabalho separadamente, para depois dar origem ao caminho total, até o Paraguai. A idealizadora prevê que em 2005 os turistas vão poder percorrer os três mil quilômetros da “estrada”.
Investimento
Rosana acredita que o projeto não vai precisar de muito dinheiro para ser posto em prática. “Não será construída qualquer infra-estrutura turística. O dinheiro será aplicado nas orientações dos peregrinos e na divulgação do local”, afirma. Mas em alguns lugares o investimento deverá ser maior, pois haverá a necessidade de reestruturar o caminho ou construir desvios nos pontos onde a trilha não existe mais ou esteja dentro das cidades.
Os idealizadores vão tentar criar uma conscientização da importância do caminho para atrair a atenção e, conseqüentemente, a verba dos municípios. “Na reunião da semana que vem estarão presentes órgãos com a Embratur e o Paraná Turismo, mas vamos precisar das cidades para implantar o projeto”, conta Rosana.