Maria França de Oliveira, de 72 anos, nunca teve a oportunidade de freqüentar uma escola antes de começar a participar do projeto Hora EJA (Educação de Jovens e Adultos), da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. Hoje, ela freqüenta duas vezes por semana aulas de duas horas na Capela de Maria Mãe da Igreja, no Bairro Alto, em Curitiba. A vida dela melhorou consideravelmente depois disso. “Antes eu conhecia algumas letras, mas não sabia juntá-las”, disse Maria, que tem seis filhos, quinze netos e treze bisnetos.
A dona-de-casa contou que de seus onze irmãos apenas os mais novos puderam estudar. “O mais velhos nunca tiveram alguém para ensinar. Eu, por exemplo, pegava o ônibus pelas duas primeiras letras. Para o Higienópolis eu fazia sinal quando via o ?H? e o ?I?”, revelou.
Assim como a história de Maria, muitas outras podem ser encontradas em turmas de pessoas adultas. Amanhã comemora-se o Dia Mundial da Alfabetização. Curitiba deu um passo à frente para erradicar o analfabetismo. Foi criado recentemente o projeto Mutirão das Letras, que faz parte do Programa Aprender. Basicamente a capacitação de pessoas com mais de 15 anos é feita com a ajuda de voluntários. “Há três formas de ajudar: sendo professor voluntário, sendo um facilitador, que ajuda a organizar as turmas e a conseguir espaço físico, ou sendo um apoiador, que consegue material didático”, contou a coordenadora do Programa Aprender, Elizabeth Naizer. Atualmente Curitiba educa 1,5 mil pessoas nesse tipo de projeto. O índice de analfabetismo na cidade é de 3,38% da população, cerca de 40 mil pessoas.
Voluntariado
Para que projetos como esse dêem certo é fundamental a participação do voluntariado. Célia Marinho Ferreira é professora, mas não está exercendo a profissão. Toda terça e sexta ela dá aulas como voluntária para 20 adultos. “É diferente. O adulto não precisa ser chamado à atenção. Eles estão aqui querendo aprender. Mas algumas vezes é mais difícil a memorização. Pois essas pessoas não tiveram chances de estudar quando crianças.”
Geni Maria de Souza, 54, Gildaia Maria de Souza Silva, 47, Jocelina Dias da Silva,54, Maria Elvira Jagielski, 42, e Maria Profíria de Jesus, 71, são alunas de Célia e tem histórias parecidas. Todas são donas-de-casa e não tiveram oportunidades quando criança. Hoje se encantam com a possibilidade de poder ler e escrever. O mais simples, como assinar o nome, é uma grande vitória para elas, que se dedicam muito. “Ficava em casa sem fazer nada. Ao invés de ir para algum lugar fazer fofoca venho para cá, aprender as coisas de Deus”, resumiu Maria Profíria de Jesus.