Pedro Garcia: “A gente não
tem chance de estudar”.

Trabalhadores da construção civil vão trocar o martelo e o prego pelo lápis e a borracha. Através do projeto Canteiro da Educação, coordenado pelo Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe), eles vão ter a oportunidade de retomar seus estudos. A maioria deixou a sala de aula muito cedo e agora quer recuperar o tempo perdido.

A rotina de 34 funcionários da construtora Laguna vai mudar a partir de amanhã. Duas vezes por semana, os trabalhadores têm um compromisso com o saber. Alguns vão ter a oportunidade de ter o primeiro contato com o mundo das letras e outros de relembrar o que aprenderam há muito tempo.

Depois do expediente, é hora de trocar de roupa, tomar um lanche e começar a construir o futuro usando as letras como a matéria-prima. As aulas vão ser dadas por professores voluntários em uma escola que fica ao lado da empresa. A coordenadora do projeto, Tânia Santos, explica que o curso também pode representar um primeiro passo na retomada definitiva dos estudos. “Muitos têm medo ou vergonha de voltar para uma sala de aula convencional. As lições do projeto podem encorajá-los a seguir em frente,” comenta. Cada aluno recebe um material diferenciado, conforme o seu nível de desenvolvimento. Eles também têm a chance de conseguir um certificado de conclusão de 1.ª a 4.ª séries e seguir no ensino fundamental.

Nerei José de Faria, 29 anos, estudou até a 4.ª série. Saiu da escola para trabalhar. Quando ficou sabendo da oportunidade, não pensou duas vezes para aceitar. “A gente não tem muita chance de estudar. Quero aproveitar”, fala. Pedro Garcia, 38 anos, vive uma realidade parecida. Mas ele só concluiu a 1.ª série. “Sei ler e escrever um pouco”, conta. Pedro demonstra preocupação com o mercado de trabalho. Com mais estudo, sabe que vai ter outras chances. Ele não vai se importar tanto em chegar em casa por volta das 22h. Ele mora em Rio Branco do Sul.

A engenheira da obra, Karin Maciel Albino, diz que na construção civil costuma-se reclamar da baixa qualificação da mão-de-obra, mas quase ninguém faz nada. Ela já está prevendo melhoras na produtividade dos funcionários. Explica que muitas ordens são escritas e o funcionários têm dificuldade para entender. Além disso, com as aulas vão se sentir valorizados e trabalhar com mais disposição.

O professores voluntários são aposentados ou pessoas leigas que recebem capacitação da Prefeitura de Curitiba, através do projeto Mutirão das Letras. O projeto conta ainda com o apoio de outras instituições.

continua após a publicidade

continua após a publicidade