O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) condenou o governo a pagar indenização a professores e educadores que ajuizaram ações individuais contra o estado por conta de ferimentos sofridos na manifestação do dia 29 de abril de 2015 na praça Nossa Senhora de Salete – em episódio que ficou conhecido como A Batalha do Centro Cívico. A decisão é da 4.ª Turma Recursal do órgão. Até o momento, são 33 ações já transitadas em julgado, para as quais não cabe recurso na instância onde foram analisadas – a Justiça do Paraná. A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) informou que vai recorrer da decisão, nos casos em que for possível, no Supremo Tribunal Federal (STF).

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As ações individuais ajuizadas pelos professores – a APP fala em mais de 200; a PGE contabiliza 79 – pedem indenização ao estado por abuso de autoridade. Um dos três acórdãos da Turma Recursal aos quais a Gazeta do Povo teve acesso informa que o processo deixou claro o caráter pacífico da manifestação dos professores, “que lutavam por seus direitos”, e que ficou “configurado o uso desmedido e desproporcional de força policial, demonstrando o despreparo dos policiais, que agiram com claro caráter excessivo”.

Os acórdãos justificam as indenizações por danos morais devido a lesão corporal provocada por disparo de balas de borracha e bombas de efeito moral efetuado por policiais militares em serviço, caracterizando excesso na atuação da polícia e responsabilidade objetiva do estado por ato comissivo (quando o ato é praticado por meio de uma ação).

Dois dos três acórdãos estabelecem indenização de R$ 4 mil; um terceiro define o valor em R$ 3 mil. A PGE informou que duas ações foram extintas porque os autores não compareceram à audiência, e que nenhum valor indenizatório foi pago até o momento.

Números conflitantes

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Segundo Agnaldo Ferreira dos Santos, advogado da APP, são 42 ações judiciais indenizatórias que já obtiveram a mesma decisão, favoráveis aos educadores. Já a PGE fala em 33, todas em fase de cumprimento de sentença, das quais o estado pretende recorrer.

A APP explica também que a entidade só encaminhou para a abertura de ações individuais os educadores que comprovadamente foram feridos durante as manifestações. “Juntamos exames de corpo de delito e boletim de ocorrência, que provam que a pessoa foi ferida. Só entramos com ação por quem realmente foi ferido”, explica Santos. As ações foram solicitadas nos juizados especiais em Curitiba.

Ações diferentes

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As ações individuais ajuizadas pelos educadores são diferentes da ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) na 5.ª Vara da Fazenda Pública, em Curitiba. Esse processo pede que o governador Beto Richa (PSDB), o então secretário de Segurança, Fernando Francischini (SD), e policiais militares que comandavam a ação sejam responsabilizados por improbidade administrativa.

Em agosto deste ano, a Justiça rejeitou a ação pública. Na decisão, a juíza Patrícia de Almeida Gomes Bergonese, da 5.ª Vara, entendeu que os manifestantes foram responsáveis pelo confronto. O MP recorreu.

Para o representante jurídico da APP, o efeito dessas vitórias individuais é simbólico para a entidade. “É o reconhecimento do Poder Judiciário de que houve abuso e excesso de autoridade nos eventos do dia 29 de abril. O estado foi penalizado pelo exercício do abuso de autoridade. [A vitória é importante] para que isso tenha efeito pedagógico e que o estado não faça isso novamente.”

A Batalha do Centro Cívico

No fim de abril de 2015, servidores estaduais estavam em greve em protesto contra o “pacotaço” enviado por Richa à Assembleia Legislativa – que tinha como um dos principais pontos de tensão o projeto que previa alterações significativas na Paranaprevidência. Em reação, funcionários ligados a 14 categorias estaduais aderiram à paralisação e acamparam na Praça Nossa Senhora de Salete. Para garantir a votação, centenas de policiais militares fizeram um cerco à Assembleia já no fim de semana que antecedeu a votação.

No dia 29 de abril, os deputados da base de apoio ao governador só conseguiram entrar na Casa em um “camburão”, escoltado por policiais. Com a sessão iniciada, pouco depois das 15 horas, um pequeno grupo de manifestantes tentou romper o cordão de isolamento feito por policiais militares, que reagiram. No total, 237 pessoas ficaram feridas: 213 manifestantes, 20 policiais, três profissionais de imprensa e um deputado. A operação custou R$ 948 mil aos cofres públicos. Em média, foram disparadas 20 balas de borracha e 11 bombas por minuto.