Os professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) não entrarão em greve. Pelo menos, não na próxima segunda-feira, como previa o indicativo de greve aprovado em assembléia da Associação dos Professores (APUFPR) no dia 25 de outubro. Em nova assembléia, realizada ontem, a grande maioria dos docentes presentes decidiu pela não-deflagração da greve. No total, foram 100 votos contra e apenas 12 a favor, havendo ainda duas abstenções.
"Não faz sentido uma greve agora, a três semanas do final do ano letivo. Não vamos conseguir mobilizar ninguém", explicou a professora Rosana de Albuquerque Sá Brito, do Setor de Ciências Humanas, que defende, inclusive, a retirada do indicativo. "Greve, do jeito que estão fazendo, não é séria. Uma greve em que se recebe salário e se repõem as aulas depois é uma brincadeira de fazer greve. Não é paralisando as aulas que vamos conseguir que nossas reivindicações sejam atendidas", concluiu.
No entanto, o indicativo foi mantido e, caso as negociações com o Ministério da Educação (MEC) não avancem, uma nova data para a deflagração pode ser votada pela APUFPR. Para o professor Cláudio Antônio Tonegutti, presidente da associação, a manutenção do indicativo é a forma de os professores da UFPR mostrarem que, apesar de não paralisarem os trabalhos, seguem insatisfeitos com as propostas recebidas.
Os professores de ensino superior das instituições federais reivindicam um reajuste salarial de 18%, retomada do recebimento de anuênios, abertura de novas vagas para concursos públicos e a incorporação das gratificações. Dentro do limite orçamentário para 2006, que é de R$ 500 milhões, o MEC apresentou uma proposta de reajuste com base na titulação de cada docente, o que, segundo o comando de greve, aumentaria a disparidade entre os profissionais. Já o MEC defende que tal forma de reajuste incentivaria o crescimento intelectual dos professores. Enquanto não se chega a um acordo, 37 universidades já estão em greve no Brasil.
Alunos aliviados
Dentre os mais de 100 professores presentes à assembléia, a presença de três estudantes do segundo ano do curso de Economia causou surpresa. Eles estavam lá para assistirem, passivamente, os rumos da vida acadêmica, uma vez que uma paralisação a três semanas do fim de um ano letivo iria atrasar todo o calendário dos estudantes. "Tudo o que a gente sabe sobre essas decisões de greve é o que ouvimos de nossos professores. Hoje decidimos vir, para ver o que realmente está acontecendo", revelou Igor Cunha. "Vim até aqui ver o que eles vão decidir para a minha vida", esbravejou Veridiana Machado.
A votação pela não-deflagração da greve agradou a esses estudantes que, apesar de reconhecerem os direitos que os professores reivindicam, cobram uma manifestação por motivos mais amplos. "Só vejo greve por melhores salários e aposentadorias, nunca vi uma mobilização dessas para pedir melhor qualidade de ensino", comentou Veridiana.
