Educação

Professores aplicam avaliação polêmica em escola estadual

Uma avaliação com questões contrárias ao governo do estado aplicada por dois professores de história para jovens e adultos no Colégio Ayrton Senna da Silva, em Almirante Tamandaré, causou polêmica nesta semana. Nas redes sociais uma foto do trabalho mostra questionamentos feitos com base na greve de 73 dias dos servidores da educação neste ano. Há ênfase para alguns episódios-chave no protesto, como a repressão policial aos professores no dia 29 de abril para a votação das mudanças na Paranaprevidência na Assembleia Legislativa (veja a avaliação nesta página). Os docentes que elaboraram o material defendem que a intenção foi despertar a consciência política nos alunos. Especialistas, no entanto, interpretam que é possível ver uma distorção no papel que se espera dos mestres em sala de aula.

A atividade foi formulada pelos professores Jorge Antonio de Queiroz e Edina Cristina Macionk. Além da prova, uma coletânea de textos opinativos publicadas em um jornal pelo professor Jorge embasou o trabalho. “Se passou uma imagem deturpada da greve, a partir da ótica do governo. Nós estamos mostrando a partir da ótica dos sujeitos sociais, os sujeitos históricos”, diz. O professor também evoca o direito à liberdade de expressão para explicar a atividade. “Nós temos autonomia na sala de aula. Eu estou contente com a repercussão, é sinal de que estamos incomodando. Minha consciência está livre”. A professora Edina complementou que a atividade foi apenas uma das várias usadas para compor as notas. “O único sentimento [negativo] que eu tenho é que foi entendido errado [na internet]. Estão falando de prova, mas na realidade é uma pesquisa. Houve leitura, debatemos com os alunos antes de realizar a avaliação.”

Miguel Nagib, presidente da ONG Escola Sem Partido, diz que os textos da atividade jamais poderiam ter sido usados em sala de aula. “Nenhum professor tem direito de se aproveitar do seu cargo para hostilizar, em sala de aula, os seus desafetos políticos e ideológicos.” Sobre a liberdade de expressão, Miguel define que para professores há diferenças. “Não existe liberdade de expressão no exercício estrito da atividade docente. O que existe é liberdade de cátedra, que é diferente.” Segundo o presidente da ONG, o direito de se falar o que quiser existe para meios nos quais os ouvintes, leitores, expectadores têm escolha. “Na sala de aula os alunos são obrigados a escutar o professor. Se o professor pudesse exercer a liberdade de expressão dentro da sala de aula, a liberdade de consciência dos alunos – assegurada pela Constituição – seria letra morta.”

Alonso Bezerra de Carvalho, professor na pós-graduação em educação da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) entende que é preciso distinguir ciência e política. “Um professor na sala deve se preocupar com que o aluno compreenda e este mesmo chegue às suas conclusões. No caso dessa pergunta ‘o governador é contra a sociedade’, não é o professor que deve induzir o aluno a chegar a essa conclusão. Ele deve mostrar os fatos, os acontecimentos históricos, e o aluno deve chegar à própria conclusão.” Alonso pondera que isso não significa que o professor precisa sempre ter o tom de neutralidade na sua fala. “O professor pode dizer: ‘eu acho que o governador é contra a sociedade, vou explicar o porquê, mas vocês não precisam concordar comigo’. Tem que deixar claro que não está falando isso como cientista, que está defendendo a própria posição.”

Confira a prova

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