Um vídeo gravado dentro de uma sala de aula mostra uma professora de redação do Colégio Sagrada Família, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, fazendo um gesto semelhante a saudação nazista.
Instantes antes de erguer o braço em direção ao horizonte, a mulher havia prestado continência. É possível ouvir um hino, não identificado, ao fundo. No momento do ato, a docente usava uma bandeira do Brasil presa ao corpo.
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Segundo professores da mesma escola ouvidos pela reportagem, a cena ocorreu na sexta-feira (07), durante uma aula para alunos do ensino médio.
A professora foi identificada como Josete Biral. Ela atua na instituição de ensino há quase duas décadas.
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A direção do colégio repudiou o ato, o qual classificou como imprudência, descuido e um grande erro da professora, nas palavras da diretora-geral, irmã Edites Bet. Segundo ela, a escola decidiu demitir a profissional.
Procurada no domingo (09), Josete solicitou que a reportagem entrasse em contato com seu advogado. Nesta segunda-feira (10), o advogado da docente, Alexandre Jorge, encaminhou mensagem para a reportagem, na qual negou que sua cliente tenha feito uma saudação nazista.
O posicionamento dela é que não existiu qualquer gesto típico de saudação nazista.
Foi no momento de descontração, no encerramento da aula, que se for se considerar gesto típico de alguma natureza seria saudação à bandeira e à pátria”, escreveu Alexandre Jorge.
O advogado ainda citou que qualquer acusação ou imputação contra sua cliente sobre gesto nazista configura fato criminoso.
Um professor relatou para a reportagem que viu o vídeo com muita tristeza e afirmou ser absurda a postura da docente.
Não é a primeira vez que uma atitude da professora chamou a atenção. Às vésperas do primeiro turno das eleições de 2 de outubro, ela foi até a janela de uma das salas e balançou uma bandeira verde e amarela. A ação foi presenciada por vários alunos e gravada. É possível ouvir a alguém dizer “mito”, como o presidente Jair Bolsonaro (PL) é chamado, mas não é possível identificar quem gritou.
Professores da escola contaram que a docente tem feito campanha para o candidato Bolsonaro nas dependências da escola. A reportagem recebeu fotos em que a professora aparece com adesivos com o rosto do presidente e outros adesivos com alusão a frases repetidas por ele, como “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, colados na roupa.
“A escola tem uma posição neutra politicamente junto aos seus alunos e professores. Orientamos aos mestres que procedam com neutralidade e respeito em todas as situações”, escreveu a diretora-geral.
Apologia ao nazismo é crime
Fazer apologia ao nazismo é considerado crime no Brasil, com penas variadas.
Para o advogado e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Ariel de Castro Alves, é necessária a abertura de uma apuração sobre o ocorrido.
“O gesto dela, em princípio, faz propaganda do nazismo e trata-se, claramente, de gesticulação nazista. Se tiver relação com a música, pode ser mais associado à propaganda e defesa do nazismo”, disse.
“De qualquer forma, ela deveria ser afastada das funções durante as investigações. Os atos dela são incompatíveis com o que se espera de um educador”, acrescentou Castro Alves, que também é membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
O advogado lembrou que a suposta tentativa de impor as ideias delas aos estudantes também pode ser passível de punição.
O artigo 232 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê detenção de seis meses a dois anos por submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento.