O Brasil tem um sério problema de habitação. O pior de tudo isso é que muitos governos e prefeituras costumam jogar dinheiro fora. Constróem casas com materiais baratos, de pouca qualidade, sem levar em conta o ciclo de vida útil dos imóveis. Os sistemas certificados de construção costumam ser mais caros, mas têm muitas vantagens. Entre elas, economia de gastos com energia elétrica, conforto térmico e acústico.
Para o professor de mestrado em construção civil da Universidade Federal do Paraná, Aguinaldo dos Santos, o País precisa mudar o enfoque na hora de construir as habitações populares. Segundo ele, está sendo levado em conta apenas a economia pontual e não posterior.
Ele diz que em outros países o poder público monta projetos especificando tipo de consumo de energia, grau de isolamento acústico e térmico, entre outras características. Depois, as empreiteiras oferecem projetos de acordo com o que foi exigido. “Aqui, costuma-se pensar apenas no preço. Não demora muito e os proprietários precisam se preocupar com reformas na casa”, fala.
Aguinaldo reconhece que os sistemas certificados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) e institutos credenciados são mais caros, já que utilizam tecnologia mais sofisticada. Mas no fim das contas acaba saindo mais barato pela durabilidade do empreendimento.
Projeto
Para contornar a falta de dinheiro, o poder público poderia construir apenas o básico. O morador ficaria encarregado de terminar aos poucos, conseguindo um desempenho progressivo. Assim é o projeto casa 1.0 desenvolvido pela UFPR em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). De início seriam erguidas as paredes com blocos de concreto e usada uma cobertura pré-moldada. A casa de 35 metros quadrados não teria repartição, apenas para o banheiro. As demais paredes seriam erguidas com o tempo. Para depois, também fica a cerâmica, o reboco e a pintura. O morador pode ainda expandir o telhado e ampliar os cômodos. “Mas para garantir a qualidade da obra, a população precisa continuar recebendo orientações técnicas”, fala Santos.
Esse modelo simplificado custa entre 30% e 40% a mais do que o convencional. O valor da casa fica em torno de R$ 5 mil, excluídos os custos do terreno e da fundação. Mas a população pode usar o dinheiro que teria que gastar trocando os materiais das casas convencionais, que desgastam facilmente.
Móveis
Outro problema que a população de baixa renda enfrenta são os móveis. Geralmente são inadequados para a nova casa. “Isso torna ainda menor o espaço interior”, fala o professor.
Na Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab) existem hoje 43.700 inscritos esperando um lugar para morar. São 38 mil famílias de Curitiba e mais 5,7 mil da Região Metropolitana. Para 2004 está prevista a regularização fundiária envolvendo 3,5 mil famílias e devem ser criados 5 mil lotes e construídos 560 apartamentos.