Um seminário promovido pelo Ministério Público Estadual (MPE) discutiu ontem as questões indígenas nacionais e paranaenses. Líderes indígenas, antropólogos, sociólogos e historiadores se reuniram com promotores e procuradores de Justiça para tratar do tema. A intenção é levar ao MPE todas as questões referentes aos povos indígenas, já que é a instituição que está mais próxima das tribos.
?É a primeira vez no País que os MPs dos estados estão acolhendo os indígenas. E isso é importante porque, diferente dos procuradores do MP Federal, os promotores estão mais próximos das tribos, presentes em todas as comarcas?, explicou o assessor de assuntos indígenas da Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos do Estado, Edívio Battistelli. O MP do Paraná criou, recentemente, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção às Comunidades Indígenas.
Os debates, que estão acontecendo na sede do MP em Curitiba, vão até hoje. Entre os convidados estão o cacique Raoni Metuktire, da tribo Xingu, do Mato Grosso, o filósofo Noel Vilas Boas, que falou sobre o trabalho do seu pai, o sertanista Orlando Vilas Boas, que teve atuações importantes na área, o diretor do Memorial dos Povos Indígenas, o índio do Pantanal Marcos Terena. ?O desmatamento está cada vez maior e muitos povos estão perdendo sua cultura. Temos que lutar para recuperar isso?, afirmou o cacique Rouni, que fala somente o idioma caiapó.
?A sociedade tem capacidade de destruir os índios. Os Xingús são um milagre?, afirmou Vilas Boas. O pai do filósofo descobriu a tribo na Amazônia mato-grossense no início da década de 50. Foi quando conheceu Raoni, que também tornou-se um militante da causa. Atualmente, estima Terena, existem cerca de 1 milhão de índios no Brasil. ?São 220 povos e mais de 180 línguas, com direito reconhecido a quase 15% do território nacional?, afirmou Terena, que defende a criação do Ministério de Assuntos Indígenas.
Integração entre culturas
O diretor do Museu Memorial dos Povos Indígenas, Marcos Terena, defendeu que pode haver integração entre brancos e indígenas sem que a cultura original se perca. ?Quando criamos o primeiro movimento indígena em 1977, em Brasília, com a frase ?posso ser o que você é, sem deixar de ser o que eu sou? era para mostrar que o povo indígena podia sair da aldeia sem perder sua identidade e valores, com o detalhe de ter acesso a novos conhecimentos e tecnologias?, afirmou.
Terena afirmou que os movimentos indígenas trabalham hoje para que a sociedade brasileira começa a integrar na sua realidade o perfil indígena, sem discriminação ou medo. ?O homem moderno, apesar de todo seu avanço tecnológico, não terá futuro se não considerar os valores tradicionais indígenas. O mundo branco peca quando agride o meio ambiente, a paz e a harmonia e o resultado é o que vemos, como, por exemplo, as mudanças climáticas tantas vezes profetizadas pelos líderes espirituais indígenas?, ressaltou.