Primeiro veículo censurado na época da ditadura militar

SELO220706.jpgA ditadura militar, iniciada em 1964, foi um marco na privação da liberdade no Brasil, principalmente quanto à liberdade de imprensa. A partir do Ato Institucional n.º 5, decretado pelo presidente Artur da Costa e Silva, e que entrou em vigor em dezembro de 1968, a imprensa brasileira passou a sofrer com a censura. O primeiro veículo censurado no País foi O Estado do Paraná.

?Isso por insistência do governador nomeado na época, Haroldo Leon Perez, que pediu a Brasília que interviesse no jornal porque éramos contra seu governo, não éramos simpáticos aos militares?, conta Mussa José Assis, diretor de Redação do jornal na época e hoje diretor dos jornais da Editora O Estado do Paraná. ?Todos os dias vinha um agente da Polícia Federal à redação, com as determinações de Brasília sobre o que podia e o que não podia ser noticiado?, relata Mussa, lembrando que até uma greve na França, por exemplo, não podia ser divulgada, pois poderia incentivar os brasileiros a também fazerem um protesto. O censor ficava na redação e só autorizava a impressão depois de ler todo o jornal, o que causava muitos transtornos, atrasando a publicação. Assim, a diretoria fez um acordo com os censores, se comprometendo a não colocar matérias que poderiam ser censuradas em cadernos que não fossem o de política ou o nacional e, confiando na palavra do jornal, o censor passou a ler apenas essas editorias.

Na primeira notícia censurada no jornal, O Estado deixou, simplesmente, o espaço em branco, evidenciando ter sido alvo de censura. Logo veio a determinação de Brasília de que era proibido deixar espaços brancos. ?Outros jornais passaram a publicar poesia ou receitas de culinária no local dos textos censurados. A O Estado, nem isso foi permitido. Tínhamos que preencher todos os espaços sem deixar perceptível que havíamos sido censurados?, recorda o diretor.

Segundo Mussa, no começo só eram alvo de censura os temas ditos ?subversivos?, mas depois, até matérias policiais que envolvessem pessoas queridas ao regime também foram censuradas, como o caso da menina Ana Lídia, seqüestrada, violentada e morta por filhos de ?figurões? de Brasília. Essa pressão diária durou até 1980, quando o presidente Ernesto Geisel foi, lentamente, restabelecendo a democracia.

Em tempo

Ao contrário do que foi divulgado ontem, o jornal nunca ficou sediado na Rua Visconde do Rio Branco. O correto é Rua Barão do Rio Branco. 

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo