"Não saber ler é como ter uma venda em frente aos olhos." A afirmação é da dona de casa Maria Neli Francener, 56 anos, que há um ano e seis meses participa de um programa de alfabetização de jovens e adultos oferecido pela Secretaria de Educação de Curitiba.
Embora a cidade seja a capital com o menor índice de analfabetismo do País (o maior índice está em Maceió, Alagoas), ainda abriga cerca de 40 mil pessoas que não sabem ler e escrever. Muitas delas não conseguem sequer escrever o próprio nome.
Com o objetivo de combater o problema e promover a cidadania, a secretaria vem oferendo o programa – a jovens e adultos a partir dos 14 anos de idade – há catorze anos. Em 147 escolas municipais, professores ministram aulas em horário noturno e contribuem para que muitas pessoas consigam concluir a quarta série do ensino fundamental. No ano passado, o programa contou com 6.019 pessoas matriculadas. Destas, 20% foram até o final.
"Para muitos alunos, aprender a ler e escrever é uma realização pessoal", explica a gerente de Educação de Jovens e Adultos da secretaria, Maria Lúcia S. Cavassin.
Desde 2001, toda sociedade vem sendo convidada a participar do combate ao analfabetismo. A secretaria vem realizando parcerias com entidades de classe – como sindicatos, associações e igrejas – e incentivando a comunidade a identificar pessoas que não sabem ler e escrever, motivando-as a fazer parte do programa. Quem conhecer alguém não alfabetizado deve ligar para (41) 350-3020 ou 350-3017, onde podem ser obtidas maiores informações.
Alunos
A funcionária pública Dirce Schionato de Souza, de 60 anos, conta que vem descobrindo um mundo novo desde que começou a aprender a ler e escrever, há quatro anos. Ela nunca freqüentou a escola e tinha dificuldades de executar tarefas simples, como pegar um ônibus. "Quando eu era criança, meus pais diziam que mulher não precisava estudar. Eu cuidava de meus cinco irmãos mais novos. Depois, aos 16 anos, casei e passei a cuidar de meus dois filhos. Nunca tive oportunidade de ir à escola", conta.
Nos primeiros meses de aula, Dirce começou a conhecer as letras, mas ainda não conseguia juntá-las em palavras. Hoje, ela já é capaz de elaborar pequenas frases. "Meu sonho é poder abrir a Bíblia e ler um trecho na igreja durante a missa, na frente de todo mundo. Vou continuar estudando e sei que vou chegar lá. É a primeira coisa que vou fazer quando estiver lendo bem", afirma.
Já a funcionária de limpeza Antônia de Fátima Carneiro, de 48 anos, freqüentou a escola até os onze anos de idade. Depois, sentiu necessidade de começar a trabalhar e abandonou os estudos. Ela chegou a aprender a ler e escrever, mas o tempo e a distância dos livros e cadernos a fizeram esquecer muita coisa. "Hoje, para conseguir qualquer emprego é preciso ter ensino fundamental completo, por mais que você tenha capacidade de executar a função. Voltei a estudar e não quero parar mais. Meu próximo desafio é fazer um curso de informática", diz.