Pela primeira vez em um evento oficial no Paraná desde que assumiu a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa de Lacerda (ex-superintendente do instituto no Paraná) disse, nesta sexta-feira (18), durante solenidade de posse do novo corregedor agrário regional, Raul Cezar Bergold, que foi nomeado para “fazer no Brasil o que vem sendo feito no Paraná”.
“Foi isso que a presidente Dilma me disse na primeira vez que conversamos”, lembrou. “É obvio que são realidades bem diferentes, que há conflitos históricos muito maiores no Norte e Nordeste, mas sou presidente do Incra, hoje, pelo que fizemos aqui no Paraná”, declarou.
Lacerda disse que as principais diferenças entre a situação no campo no Paraná para o norte do país são históricas, vêm desde a colonização, mas diz que almeja atingir em todo o país “a mesma, de certa forma, harmonia, que se vive aqui no Sul”.
Para o presidente do Incra, o Paraná tem sim o que ensinar para o restante do país em termos de reforma agrária. “O Paraná é um estado que tem know-how em gestão de reforma agrária, que pode ser levado para o resto do país. Em termos de desenvolvimento dos assentamentos, da forma como são organizados”, disse.
“Os assentamentos do Paraná produzem muito e até contribuíram para o desenvolvimento das regiões onde estão localizados, o melhor exemplo são os assentamentos do noroeste do Paraná, região muito pobre há duas décadas e que hoje se desenvolve acima da média”, acrescentou.
Lacerda disse que prepara, para o início de 2012, uma reestruturação das atribuições do Incra, que, segundo ele, passará a exercer apenas seu objetivo principal.
“O Incra não tem competência para, depois de desapropriar uma terra, fazer todas as políticas ali: construir a infraestrutura, fazer o plano de desenvolvimento, construir casas, escolas, postos de saúde, dar assistência técnica, viabilizar a agroindústria. Mas, diante da deficiência de outros órgãos que deveriam fazer isso, o Incra acaba assumindo e faz tudo. Mas faz tudo de forma desqualificada, pois não temos toda essa capacidade técnica”, disse, citando um exemplo. “No governo Lula, o programa de habitação do Incra construiu e reformou mais de 400 mil casas. O Incra é um órgão fundiário, de terras, não é um órgão habitacional. Estamos trabalhando para tirar do Incra essas atribuições e deixar que ele faça bem feito o que é sua função original: ser um órgão de terra, um órgão fundiário, para atuar nessa área com excelência, pois isso sim, ninguém mais faz”, disse o presidente, que ainda elogiou o governo do Paraná por estar tratando a questão agrária “com bom senso”, ao invés da “tolerância zero” que o governador Beto Richa (PSDB) havia prometido na campanha eleitoral.