Presentes especiais para toda a vida

Uma crônica de autor desconhecido, que pelo poder de alcance da internet circula pelo mundo, diz que a mãe de uma criança com deficiência não precisa de anjo-da-guarda, mas apenas de um espelho para refletir a própria imagem. A comparação poética entre essas mães especiais e figuras angelicais está diretamente ligada ao espírito protetor que elas desenvolvem.

Muitas mães descobrem que seus filhos nascerão com problemas físicos ou mentais ainda no ventre. Outras vêem filhos saudáveis desenvolvendo deficiências ao longo do tempo. Porém, em ambos os casos, uma força maternal especial se desenvolve, dando a elas o poder de superar as preocupações com os preconceitos da sociedade ou com as limitações que seus filhos sofrerão. Para elas, os filhos, independente das deficiências, são um presente que deve ser cuidado por toda a vida.

Elvira Schiavi da Silva é uma dessas mulheres que fizeram da dedicação a um filho com deficiência a razão de viver e não se arrependem um segundo sequer. Mesmo tendo que abrir mão do emprego que tinha para acompanhar o tratamento do filho mais novo, Juliano, ela se diz realizada como mãe e diariamente presenteada com o progresso do rapaz, hoje com 20 anos. "Ele passou por imensas dificuldades, ficou sem andar, sem falar. Hoje, vê-lo caminhando, estudando e feliz é meu maior presente."

Juliano nasceu sem qualquer tipo de deficiência, porém uma queda típica da primeira infância, quando as crianças estão aprendendo a firmar o passo, mudaria o seu destino. Levado ao médico após o tombo, foi diagnosticado apenas uma torção no cotovelo. "O médico não achou necessário fazer uma tomografia, já que aparentemente nada havia acontecido." Passaram-se oito anos e o garoto começou a sentir tonturas e a ter desmaio. Após exames, o diagnóstico cruel: a partir de um coágulo formado na cabeça, aos dois anos, surgiu um tumor, que precisaria ser combatido com quimioterapia e radioterapia. "Tive um sentimento de culpa grande, porque não insisti em um exame detalhado quando ele caiu. Não pensei duas vezes antes de largar o emprego, o marido e meu outro filho, mais velho, para me dedicar integralmente ao Juliano."

Durante o tratamento, a radioterapia comprometeu o lado direito do corpo do garoto, causando paralisia. Ele perdeu a capacidade de andar, ficou sem se comunicar e preso a uma cadeira de rodas. "No fundo, meu coração de mãe dizia que ele ia ficar bem e que o amor seria o remédio." Hoje, após oito anos de luta, Juliano ainda apresenta alguma dificuldade na fala, mas voltou a estudar – está na oitava série da escola especial da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná. "Se minha mãe fala que minha recuperação é um presente, eu só tenho a agradecer todo o amor e dedicação que ela tem por mim", diz Juliano.

Dia das Mães com alegria multiplicada

Para uma mãe que vê um filho superar desafios a vida inteira, a alegria é triplicada. É o caso de Simonete Dugonski, mãe de Felipe, 19 anos, portador da síndrome de Down. Quem a ouve falar do rebento se emociona com o orgulho escancarado que sente do rapaz, que ela define como alegre, comunicativo e carinhoso. "O Felipe não permite que ninguém ao seu redor fique triste, por alguns minutos que seja. Logo arranja um jeito de fazer a pessoa sorrir", diz.

Ela descobriu o problema do filho logo que ele nasceu e a confirmação do pediatra só serviu para ela ter certeza de que tinha sido agraciada com uma criança muito especial. "Amor de mãe é incondicional e aceitei sem problemas, mesmo sabendo que ele precisaria de cuidados especiais", diz. Para cuidar de Felipe, Simonete parou de trabalhar para acompanhar todas as sessões de fisioterapia e fonoaudiologia do filho, que recebeu tratamento intensivo até os dois anos de idade. "Para crianças com síndrome de Down, os primeiros anos de vida são decisivos para que ele tenha uma vida normal depois. Na época não foi fácil, até mesmo por questões financeiras, mas o amor de toda a família ajudou no tratamento e hoje só sinto orgulho dele."

Mesmo ciente das limitações do filho, Simonete sempre fez questão de colocá-lo em contato com o mundo, para que ele não se sentisse excluído ou superprotegido. "Como toda criança ou adolescente, ele também precisa de limites. Isso é muito importante para as mães de filhos especiais", ensina.

Simonete diz que comemorará o Dia das Mães com alegria multiplicada. "Só quem tem um filho especial sabe que ele é um grande presente que Deus mandou." (GR)

Especiais devem ser tratados como normais

O amor das mães que tem filhos especiais pode ser infinito, porém a sua efetivação pode requerer acompanhamento psicológico. Muitas mães – e também pais – costumam carregar culpa pela deficiência dos filhos, especialmente quando a causa do problema é genética. Outro problema que surge após a aceitação da realidade é a superproteção, que não só pode sufocar a criança como também anular a vida da mãe.

Segundo a psicóloga Kelly Critie Benvenutti Pereira, o ideal para as mães com filhos especiais é tratá-los como crianças normais. "Todo o bebê requer cuidados e as crianças especiais só precisam de um pouco mais de estimulação, por meio de especialistas." Por isso, a receita é simples, mesmo que nem sempre seja fácil colocá-la em prática. "A mãe, em especial, tem que trabalhar para não carregar a culpa, se libertar e impor limites, cuidando sempre para não sufocar os filhos."

Há nove anos trabalhando com portadores de deficiências e pais que convivem com a situação no dia-a-dia, Kelly diz que muitas mães se auto-questionam o porquê de terem filhos especiais. Para ela, a resposta é direta e transcede o concretismo. "Só mães muito especiais têm a capacidade de cuidar de uma criança especial", acredita.

A psicóloga dá essa característica às mães porque, para que haja superação dos limites, a dedicação tem que ser grande. "Há um tempo certo para tudo e 90% dos portadores podem evoluir muito se estimulados. O apoio da mãe é fundamental e o resultado, gratificante, já que no caso de pessoas com necessidades especiais, cada pequeno progresso é um presente a ser comemorado", diz Kelly. Para essas mães, cada pequena evolução de seus filhos representa um grande presente, recebido não apenas no Dia da Mães, mas durante os 365 do ano. (GR)

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