Um verdadeiro batalhão trabalhou ontem na desocupação de uma área no bairro São Braz, em Curitiba. Cerca de mil funcionários da Guarda Municipal, Fundação de Ação Social e de outros órgãos da Prefeitura estiveram envolvidos na retirada de 140 famílias, que ocupavam desde o dia 13 de março uma área de 5 mil metros quadrados pertencente ao município.
A operação começou por volta das 5h e se estendeu até a tarde. Mais de 60 caminhões, além de tratores e veículos pequenos, foram utilizados para retirar as famílias e demolir as residências. A maioria das pessoas foi levada para casas de parentes ou amigos. Quem não tinha onde ficar, foi conduzido, junto com a mudança, para um albergue da Fundação de Ação Social.
A desocupação chamou a atenção pelo número de pessoas e volume de equipamentos empregados. Agentes da Diretran controlaram o trânsito em diversas quadras próximas à área, localizada entre as ruas Pedro Correa da Cruz, Irerê e Sidney de Oliveira. O local fica em um fundo de vale e é cortado por um riacho que desemboca no Rio Passaúna. Em março, a área foi ocupada por 40 famílias que montaram barracas de lona no terreno. Ontem, o número chegava a 140 casas, algumas inclusive de alvenaria.
A Prefeitura já estava com mandado de reintegração de posse desde o dia 15 de março. Como as famílias se recusavam a sair, foi solicitada a intervenção da Polícia Militar. Porém, o Estado deixou de cumprir a determinação da Justiça, e a Guarda Municipal foi acionada para a desocupação.
Agora o município está processando o Estado pelo não- cumprimento da ordem judicial. “Houve omissão do Estado, o que gerou a falsa expectativa de que essas famílias poderiam permanecer na área”, afirmou o procurador-geral do município, Maurício Ferrante. Segundo ele, a Prefeitura já fez uma representação junto ao Ministério Público, e agora vai ingressar com ações pedindo o ressarcimento pelos custos empregados para fazer a desocupação e pelos prejuízos causados ao meio ambiente.
Sesp
A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que a retirada das famílias do terreno do São Braz não aconteceu porque não havia local para levá-las. Quando houve a invasão, a Guarda Municipal retirou os invasores e no mesmo dia eles retornaram. Quando a Sesp foi comunicada sobre o mandado de reintegração de posse, procurou a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) para tentar encontrar uma área para as famílias. Segundo a secretaria, o órgão municipal não a atendeu. Outra situação que levou a Sesp a não fazer a reintegração é o fato de no mandado de reintegração constar a prerrogativa de a Guarda Municipal encarregar-se, caso a Polícia Militar não agisse em 24 horas.
Famílias questionam ação
Apesar de não haver resistência por parte das famílias para deixar a área, muitas reclamaram que foram pegas de surpresa. “Eles nem avisaram a gente da desocupação e já chegaram demolindo tudo”, afirmou a dona de casa Sonia Maria Rodrigues da Silva. Ela resolveu invadir o terreno porque não conseguia pagar o aluguel. Sonia acabou comprando – em prestações – madeira para construir uma casa no local, que ontem foi demolida.
O mesmo aconteceu com a diarista Avanice Pereira da Silva, que se mudou com o marido e dois filhos para o terreno da Prefeitura para fugir do aluguel. Ela afirmou que investiu R$ 1 mil no material para erguer a casa. “Eu ainda estou pagando isso. E agora não tenho mais a casa”, afirmou.
O desemprego pesou na decisão de Orlei Costa de aderir à invasão. Ele construiu uma casa com madeira doada e comprada de desmanches, e levou para lá a mulher e três filhos. Decepcionado com a ação da Prefeitura, disse que não teria para onde ir e planejava acampar às margens da rodovia. “Eles nem deram um prazo para a gente sair”, falou. A esposa de Orlei, Rosimeri, reclamava que eles foram maltratados pelos funcionários – nem comida tinham para dar aos filhos. “Eles chegaram cedo e não deu tempo de ninguém comer”, falou.