Foz do Iguaçu – O prefeito de Foz do Iguaçu, Sâmis da Silva (PMDB), classificou ontem como ?terrorismo da CNN? a notícia da rede de televisão norte-americana apontando, mais uma vez, a existência de supostas células terroristas na fronteira entre o Brasil, Paraguai e Argentina, e que estariam planejando ataques aos Estados Unidos e Israel.
?Não há qualquer fundamento em notícias desse tipo que tentam, sistematicamente, prejudicar a imagem de Foz do Iguaçu como um dos destinos turísticos mais conhecidos do mundo?, disse Sâmis da Silva. O prefeito determinou que a Procuradoria Geral do Município estude a melhor medida para acionar judicialmente os veículos de comunicação que denigrem, sem fundamentos, a imagem de Foz do Iguaçu como destino turístico.
A cidade de Foz do Iguaçu, situada no extremo Oeste do Paraná e fronteira com Paraguai e Argentina, é mais conhecida pelas belezas naturais das Cataratas do Iguaçu, do Parque Nacional do Iguaçu e da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo. A fronteira passou a ter uma mídia negativa em função da crise econômica que empurrou para a informalidade milhares de pessoas. Elas encontraram na compra e revenda de mercadorias comercializadas em Ciudad del Este o principal meio de subsistência.
Em função desse comércio, a região passou a abrigar a segunda maior comunidade árabe do Brasil. Cerca de 12 mil árabes vivem entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. A Polícia Federal, reiterada vezes, desmentiu as ilações da rede norte-americana.
Monitoramento
Sâmis da Silva determinou ainda aos departamentos de Comunicação e de Informações Institucionais, um maior monitoramento da mídia para identificar matérias difamatórias contra Foz do Iguaçu. ?Não podemos compactuar com esse tipo de terrorismo que alguns órgãos de imprensa insistem em fazer contra Foz do Iguaçu?, disse Sâmis. O monitoramento da mídia negativa contra Foz do Iguaçu foi adotado pela Prefeitura logo após os ataques terroristas contra os EUA, ocorridos no dia 11 de setembro de 2001.
Após os ataques, alguns veículos afirmaram que a região da Tríplice Fronteira abrigava várias células terroristas que teriam ajudado a financiar os ataques contra as torres gêmeas do World Trade Center.
As matérias, consideradas caluniosas, são encaminhadas à Procuradoria Geral do Município e podem ser anexadas em ações. No ano passado, o município acionou judicialmente o Procurador da República, Celso Três. A ação corre na 4.ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre (RS). O procurador fez acusações dando conta de que Foz e região se tornaram um paraíso para a lavagem de dinheiro através das contas CC5.
Ministro da Justiça diz que há exagero
Salvador – O ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, afirmou ontem que não existe célula terrorista alguma na Tríplice Fronteira, conforme foi divulgado anteontem pela rede norte-americana de televisão CNN. ?Pode estar havendo um certo exagero, já que não há registro sobre isso em nenhum dos três países. Há uma certa demonização da região, o que não é correto?, disse o ministro, que preside em Salvador reunião de ministros de Justiça e Interior do Mercosul, mais Chile e Bolívia.
Paulo de Tarso participa em Salvador do encontro de ministros da Justiça e do Interior do Mercosul, Bolívia e Chile, para definir acordos de cooperação entre os países, como o de combate ao terrorismo e ao tráfego ilegal de aeronaves. ?Os ministros vão determinar todas as medidas no sentido de que seja sempre aprofundada a investigação e o combate ao terrorismo?, explicou o ministro.
Segundo ele, os acordos que foram assinados ontem reafirmam o controle desses países sobre a região, de modo a impedir ações terroristas.
Outra negativa
O general Alberto Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, reafirmou também que não há indícios de atividades terroristas, campos de treinamento, focos de planejamento e apoio a terroristas na fronteira brasileira entre o Paraguai e a Argentina. Segundo ele, o serviço de inteligência faz um acompanhamento permanente dos suspeitos. ?Lembramos que apoiamos investigações em Foz do Iguaçu como forma de prevenção ao terrorismo, executa-se permanente acompanhamento para detectar movimentação de integrantes de organizações terroristas internacionais e suas atividades e interação com serviços de inteligência estrangeira em nosso trabalho?, afirmou.
Argentino descarta reuniões no Brasil
São Paulo – O chefe do Serviço de Inteligência do Estado da Argentina (Side), Miguel Toma, confirmou ontem que enviou informação aos Estados Unidos sobre uma possível reunião de organizações terroristas na Tríplice Fronteira, provavelmente no Paraguai, e descartou que isso tenha ocorrido em território brasileiro.Toma considerou ainda que a ameaça terrorista já não estaria tão concentrada na Tríplice Fronteira e teria encontrado outros locais na América Latina.
Sobre a suposta reunião de extremistas na Tríplice Fronteira, Toma disse que ?nada aponta ao território brasileiro. Os sinais indicam que pode ter acontecido alguma coisa em Ciudad del Este?, comenta. ?Observamos o aumento de atividades de risco no Paraguai, e não no Brasil. Há dados de inteligência que poderiam indicar que esse encontro (terrorista) teria ocorrido, mas sobre isso não posso dar informações?, completa Toma.
Ele também relatou que entregou essas informações, em outubro, ao chefe da CIA, George Tenet, e deve fazer o mesmo com os serviços de inteligência brasileiros. No entanto, Toma estimou que ?a atividade da Tríplice Fronteira foi diminuindo nos últimos meses com o aumento da segurança. Estamos verificando uma atividade crescente em outra região?, afirma.