Tanque vazio

Preço dos combustíveis dispara e povão tenta deixar o carro em casa

Está raro encontrar motorista que peça pra completar o tanque nos postos de combustíveis de Curitiba. A disparada nos preços da gasolina, etanol e diesel, que segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro apresentaram uma variação de 6,09% no país, na capital paranaense foi ainda mais cruel, registrando uma elevação de 7,16% no mês.

De longe foi o item que mais impactou na inflação de outubro (0,82% no Brasil e 0,64% em Curitiba). No ano, os preços dos combustíveis reservam 16,80% de alta pros motoristas que abastecem em Curitiba, enquanto o índice nacional acumula 14,86% de elevação.

O garçom Walquer de Lima Bonfim, que mora em Colombo e trabalha em Curitiba, já desistiu de usar o carro no dia a dia. “Virou artigo de luxo, só tiro da garagem pra levar meu pai no médico. Pro trabalho, voltei a pegar ônibus e bicicleta”, admite. A decisão ajuda o garçom a frear as despesas. “Peço pra colocar entre R$ 20 e R$ 30 de gasolina e vou contando com a sorte pra que o combustível dure”, explica.

O carpinteiro João Carlos da Silva diz que insiste em usar o carro por conta da agilidade que não consegue com o transporte coletivo, mas percebe que a opção passou a pesar mais no orçamento. “Há dois meses, os R$ 50 que costumo usar em cada parada no posto enchiam uns 20 litros. Hoje, consigo pouco mais de 14 litros de gasolina”, compara.

Felipe Rosa

Etanol subiu mais que gasolina

Quem tem carro flex nota que falta opção no quesito economia, já que o etanol conseguiu subir ainda mais que a gasolina. “Uso etanol enquanto compensar na proporção de 0,70, mas o gasto aumentou em todos os combustíveis”, constata o taxista Aroldo Carvalho. Como o carro é instrumento de trabalho, ele criou o hábito de abastecer diariamente pra uma jornada de 12 horas de serviço. “Há um ano, eu precisava de menos de R$ 30 pro dia de trabalho, em agosto, eu gastava R$ 50 e, agora, vão R$ 70 por dia”, descreve.

Experiente na flutuação dos preços na capital, ele recomenda aos motoristas sempre deixarem para abastecer no início da semana. “Faz diferença, pois o preço na bomba na sexta-feira costuma ser mais alto que na segunda. E o fim de semana fica ainda mais caro que na sexta”, orienta.

A microempresária Adriana Reichert, que divide a rotina entre Curitiba e Balneário Camboriú (SC), conta que segue enchendo o tanque para evitar contratempos. “Não adianta, porque a minha necessidade de deslocamento é a mesma”, avalia. No final do mês, as despesas dela com combustível passaram de R$ 500 para R$ 720. Em relação aos dois estados, ela acredita que enquanto a gasolina está bem mais cara em Curitiba, em Santa Catarina é o etanol que castiga mais.

Greve não prejudica

Apesar de desde o dia 29 de outubro, os trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) terem aderido à greve nacional dos petroleiros, Curitiba ainda não corre risco de ficar sem combustível.

“Sabemos que a produção de combustível é menor observando a redução de caminhões que transitam pelo pátio da refinaria. Mas não podemos quantificar isso, pois estamos sendo barrados na empresa. Tentamos negociar pra garantir 30% de trabalhadores em função da produção de gasolina, gás de cozinha e diesel, mas estamos sem diálogo e tivemos os crachás bloqueados. Falar em falta de gasolina, hoje, pode ser apenas especulação pra elevar preços de combustíveis”, diz o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro), Mário Dal Zot.

Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), a situação atual ainda est&aa,cute; longe de impactar o consumidor. “Estamos acompanhando a evolução da greve, e logicamente quanto mais tempo ela permanecer a preocupação aumenta. Porém, atualmente, nenhuma região do país corre risco de sofrer com a falta de gasolina por conta dessa greve”, informou o Sindicom.

Por seu lado, a Petrobras explicou em nota que através de seu plano de contingência, tem conseguido reduzir os impactos da greve sobre suas operações. “A perda diária de óleo por efeito da greve diminui 60% desde o dia 2 de novembro. O impacto atual estimado na produção de petróleo tem sido, desde o último sábado, da ordem de 115 mil barris ao dia”, respondeu a estatal. (Samuel Bittencourt)

Felipe Rosa

Lucro dos postos aumenta

Pelo acompanhamento de preços da Agência Nacional de Petróleo (ANP), os postos pesquisados apresentaram na primeira semana de novembro um valor médio de R$ 3,397 pra gasolina comum, sendo que o valor máximo observado foi de R$ 3,599. Pro etanol, o preço médio foi de R$ 2,44, sendo o máximo registrado de R$ 2,69. Nos postos visitados ontem pela reportagem, foi possível notar que a tendência é de novas altas, já que foram encontrados postos no Centro comercializando o litro da gasolina comum a R$ 3,69 e o etanol a R$ 2,79.

“O comportamento dos preços dos combustíveis no país conseguiu ser ainda pior em Curitiba e demonstra que a crise não é pra todos os setores. Há quem esteja aproveitando o momento pra aumentar a margem”, sugere o supervisor geral do Departamento Intersindical de Economia e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva. O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis-PR) não comenta preços praticados pelos postos