Praças de Curitiba têm vida própria

O movimento de uma cidade com mais de 1,7 milhão de habitantes é intenso. Nas ruas, os carros brigam por espaço, nas calçadas, pessoas não param. Porém, com todo esse fluxo, um espaço pequeno e tranqüilo, e que serve de ponto de encontro, é palco de incrível dinâmica: as praças de Curitiba. Cada qual tem seu ritmo, cenário e figurantes próprios.

Onde antes havia um capão do rio Ivo, e que foi registrado como Largo Oceano Pacífico em 1878, hoje se encontra a Praça General Osório. Em 1879, o espaço passou a levar o nome de Largo General Osório e, daquela época até hoje, o logradouro se tornou um dos mais conhecidos da cidade. O que antes era palco de homenagens e demonstração de civismo, hoje é o local escolhido pelo aposentado João Gaspar, de 71 anos, para passar o tempo. O local tem feiras, cafés, lanchonetes, bancas de revista, quadra esportiva, a ?Boca do Brilho?, e mesas de xadrez.

Na mesma Praça Osório, o gari Nelson dos Santos, de 45 anos, garante o seu trabalho. ?Aqui é sempre limpo para as pessoas terem a liberdade de vir?, garante.

E, as pessoas de fato vão. Gerson Mendes, de 85 anos, e os outros três colegas sentam no mesmo banco para observar e debater o movimento da praça há mais de quinze anos. ?A gente vem para conversar, encontrar os amigos. Gostamos muito da praça?, afirma.

Um dos alvos de observação e reclamação dos aposentados são os meninos que, à plena luz do dia, cheiram cola. Contudo, esses adolescentes explicam o motivo de permanecer no local.

?Os guardas quase nunca passam por aqui. É tranqüilo. E, de vez em quando tiram a gente, mas voltamos todo dia, não importa a hora. Não tem problema?, garante um dos meninos.

Ainda na mesma praça mas, em outra ?cena? do dia, ao lado dos aposentados e de costas para os meninos, está o posto policial. ?Todo dia tem dupla de policiamento a pé. A segurança aqui está normal, mesmo com os moradores de rua?, afirma o soldado da PM, que também não quis se identificar.

Tiradentes

Outro espetáculo à parte no centro da capital é a Praça Tiradentes, palco da fundação da cidade, em 29 de março de 1693. Nessa época ainda era conhecida como Largo da Matriz. Em 1880, data da visita do imperador, o largo passou a ser chamado de Dom Pedro II e, somente em 1889, recebeu o nome atual. O aposentado Francisco Cardoso só vai na praça por um serviço que só tem lá. ?Para mim é ótimo, tenho a pessoa certa para engraxar meu sapato. Enquanto ele estiver aqui eu venho na praça?, garante o aposentado.

O serviço que ele busca é oferecido por Renato Santos Lima há 47 anos, desde os nove, na mesma praça, na Tiradentes. ?Aqui é bom porque as pessoas passam e a gente tem os clientes antigos, que sempre aparecem. Nós que estamos aqui, vemos de tudo. Até mesmo as situações mais inusitadas. Todo dia, a toda hora tem algo de interessante acontecendo aqui na praça?, conta.

A história da Tiradentes se completa com outra praça, inaugurada em 1966, cujo nome é a data de fundação de Curitiba, a 29 de Março.

Nos bairros, pedidos de manutenção

Ao contrário das praças centrais, nos bairros as praças menores são pouco freqüentadas e o movimento não é grande. Por falta de cuidado de parte da população, e por falta de manutenção, por parte do poder público, as ?pracinhas? são alvos de vandalismo e arruaça. ?Essas praças não têm o mesmo projeto das áreas mais ricas e centrais da cidade. Há menos manutenção para preservar esses locais?, afirma o arquiteto Paulo Chiesa.

No Bom Retiro, o mato da praça General Werner Gross está alto. A escadaria que leva até uma árvore centenária, sem qualquer informação, e até um campo de futebol está tomada por formigueiro. Quem mora em frente ao local tem outras reclamações. ?Na verdade, quem utiliza as praças não somos nós, são os jovens que vêm bagunçar. Se estivesse em melhores condições nós utilizaríamos. No entanto está abandonada?, afirma Patrícia Almeida.

No Seminário não é diferente, entre as ruas Virmond Garnasciali e Curupis, está a praça Tobias Bueno Arruda. ?Tinha um espaço para as crianças brincarem, mas o caminhão que veio trocar as lâmpadas acabou destruindo o local. A praça está em péssima condições?, conta João Ribas. O vizinho complementa. ?Os bancos estão sem madeira, tudo quebrado. Falaram que iam fazer uma obra de drenagem na praça e até agora nada?, afirma o engenheiro João de Souza.

Segundo a Prefeitura, há aproximadamente 920 logradouros, entre praças e jardins. Em épocas mais quentes e quando as chuvas são mais intensas, entre novembro e março, a grama chega a crescer dez centímetros por semana. A roçada precisaria ser feita de 15 em quinze dias. No entanto, a demanda é muito grande. ?Estamos intensificando a manutenção das praças com a contratação de novas empresas terceirizadas. Temos previsão de que até o Natal a cidade estará em dia?, garante Marcus Vinícius Jorge, diretor de parques e praças da Prefeitura. (NF)

Dividindo espaço com marginais

Palco de obras de Poty, a 29 de Março, infelizmente, é ocupada por marginais que dormem nos bancos e na grama. Apesar disso, o veterinário Arcênio Kunez não se incomoda. ?As crianças brincam no local. Outros passeiam com o cachorros. É um bom lugar para conhecer novas pessoas?, conta.

Também Míriam Santa Rosa e a sogra Terezinha, também não se incomodam com os moradores de rua. Sentam para observar o local e, enquanto isso, aproveitam a para tomar um lanche. ?É tranqüilo, nem parece que estamos em Curitiba?, afirmam.

Quatro nomes

A Praça Santos Andrade, antes de receber esse nome, em 1901, já teve outros quatro: Largo Lobo de Moura, Duque de Caxias, de novo Lobo de Moura e Thereza Christina. O ambiente é preenchido pelo movimento do Teatro Guaíra e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas também é onde o mato-grossense Jorge dos Santos namora a esposa, sentados no banco, ao lado de moradores de rua que logo cedo se embebedam, e da senhora coreana que leva os netos para apreciar a paisagem.

A capital ainda tem a Praça da Espanha, da Polônia, da Ucrânia e diversas outras. Todas elas, segundo o professor de arquitetura e urbanismo da UFPR, Paulo Chiesa, têm a sua contribuição para o urbanismo de Curitiba. ?O mais importante da praça é que ela precisa ter área segura, livre para as pessoas se encontrarem, passarem. Nada que obstrua esse encontro?, diz. (NF).

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