Os trabalhadores portuários avulsos de Itajaí (SC) – uma das cidades mais afetadas pelas graves enchentes de novembro – terão um Natal um pouco mais confortável. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) enviou a primeira remessa de colchões comprados com verbas do programa “Porto Solidário” . O programa foi criado depois que o Porto de Itajaí foi parcialmente destruído por causa das enchentes. Ao todo, foram entregues 350 colchões de solteiro. Nos próximos dias, a Appa entrega outros 150 colchões de solteiro e 200 de casal, além de 900 travesseiros.
Para quem perdeu quase tudo com a enchente e ainda está sem trabalho, os colchões doados chegaram em boa hora. Caso do estivador Amaro José Pereira. Há 30 anos trabalhando no porto de Itajaí, Pereira está sem serviço há um mês. “Trabalhamos em regime de revezamento e sempre trabalhei todos os dias – em épocas de grande movimento, até duas vezes ao dia. Agora, estou parado, e nem sei por quanto tempo”, lamenta.
A situação é grave, pois seis pessoas dependem diretamente da renda do estivador. Passados alguns dias da enchente – na casa de Pereira, a linha d’água chegou a 1,2 metro de altura -, a família tenta se reestruturar. “Conseguimos levantar muita coisa, para evitar a perda total, mas muita coisa se foi. O guarda-roupa das crianças não presta mais, e tivemos que improvisar um armário até ser possível comprar outro”, conta.
O 26 de novembro de 2008 será um dia difícil de esquecer para a família Pereira. A filha do estivador, Edicléia Fernandes Pereira, entrou em trabalho de parto exatamente no dia da enchente. Ela teve que sair de casa, amparada pela mãe, com a água cobrindo a barriga. O trajeto até o hospital foi feito numa lancha, com a ajuda do Corpo de Bombeiros. Hoje, dormindo tranqüila na casa que ainda traz nas paredes a marca da água, está Maria Grabriely. “O importante é que no final tudo deu certo”, diz Edicléia.
Quem viveu a tragédia tenta agora olhar o futuro com otimismo, e ainda encontra tempo para ser solidário. Quando recebeu o colchão que está sendo entregue aos cadastrados pela Intersindical de Itajaí, Pereira agradeceu a doação, mas já tem destino certo para o colchão. “A nossa situação é difícil, estamos utilizando as economias para sobreviver enquanto o trabalho não aparece. Mas a minha vizinha aqui da frente perdeu tudo que tinha em casa, não sobrou nada. Ela está precisando mais do que a gente, e por isso vamos dar este colchão para ela”, conta Pereira.
Cadastro
A Intersindical de Itajaí fez o cadastramento de todos os Trabalhadores Portuários Avulsos afetados pela enchente e que precisam de ajuda. Os registros estão centralizados na sede da Estiva em Itajaí. Até agora, já foram cadastradas cerca de 500 famílias, somando duas mil pessoas. Cada cadastro traz as necessidades principais de cada família, e a demanda está sendo atendida à medida que as doações vão chegando. Todos os donativos comprados pela Appa com “Porto Solidário” são entregues à Intersindical, que é responsável por repassar aos cadastrados.
O “Porto Solidário” foi criado pela Appa para garantir o fluxo rápido de cargas de Santa Catarina, e prevê o repasse de parte das tarifas portuárias pagas ao porto – pelos navios que estão operando carga de Itajaí em Paranaguá – para a compra de donativos a serem destinados aos TPAs de Itajaí. Além do Porto de Paranaguá, o Porto de Antonina passou a integrar o programa esta semana.
“A competição deve se dar em condições normais. Em momentos como este, precisamos nos solidarizar aos trabalhadores do Porto de Itajaí, que tiveram o volume de trabalho reduzido em função dos danos causados pelas chuvas. Por isso, o programa Porto Solidário vai durar por tempo indeterminado, enquanto houver necessidade”, diz o superintendente da Appa, Daniel Lúcio Oliveira de Souza.