Mais envelhecida

População de idosos vai dobrar até 2050. Estamos preparados?

A população mundial está ficando mais velha. Essa é a conclusão de relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê que até 2050 o número de pessoas com mais de 60 anos dobrará.

No entanto, a grande preocupação levantada pelo estudo é que esse aumento na expectativa de vida não será acompanhado por mais qualidade durante esses anos a mais. Para Curitiba, a realidade é ainda mais alarmante, com o número de idosos podendo passar dos atuais 13% para 30% da população.

Esse significativo aumento indica que o Brasil está se tornando uma nação envelhecida – com mais de 14% da população nessa faixa etária, segundo a classificação da OMS.

Porém, envelhecer e continuar aproveitando a vida com qualidade se tornou o novo desafio das próximas gerações de velhinhos.

“Poucas pessoas se preocupam como será quando alcançarem os 60 anos. Grande parte da população vive preocupada com o agora. Até mesmo alguns idosos que chegam a essa idade rejeitam a ideia de envelhecer. Mas existe uma série de atividades que podem ajudar a pessoa a se aceitar e manter sua agenda ativa e atualizada. É uma maneira de incluir o idoso na sociedade”, explica a coordenadora do programa Universidade Aberta da Maturidade, Maria Emília Daudt von der Heyde.

Agenda cheia

No programa que ela coordena, mantido desde 2011 pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), as atividades e cursos são ofertados gratuitamente para um grupo de cem idosos todo ano.

O foco do projeto é oferecer uma agenda para quem chega a essa idade e tem a tendência a permanecer em casa, como era o caso do recém-aposentado Silvio Seiji Kuroda, agora com 64 anos.“Após parar de trabalhar, tive muito tempo disponível e buscava algo para não ficar parado. O curso foi muito proveitoso, com aulas de informática, cultura e história, permitindo um grande crescimento pessoal”, lembra Silvio.

Cidade deve se preparar

Além das próximas gerações terem de se adaptar para a realidade apontada pela pesquisa, a estrutura oferecida pela cidade também terá de sofrer renovações. Hoje, Curitiba conta com mais de 70 casas que servem como instituições de longa permanência para idosos, além de Centros de Convivência e dos Centros de Atividades para Pessoa Idosa (CATI) voltados para quem possui mais independência e não necessita de acompanhamento 24 horas.

Mas, como a cidade conta com cerca 13% de idosos, aproximadamente 244 mil pessoas, a demanda ainda supera a oferta. “Manter um idoso é caro. Quanto mais dependente ele se torna em função de doenças, esse custo se torna ainda maior. Em uma instituição privada, o custo varia, por baixo, entre R$ 3 mil e R$ 5 mil para uma pessoa que é independente e não precisa de atendimentos especiais. Se formos pensar que a realidade de hoje já não é capaz de atender a todos, isso apenas se agravará”, revela a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Claudia Costa Carneiro Hernandes.

Pensando no seu futuro

A solução encontrada por Silvio para enfrentar a terceira idade veio logo cedo, quando iniciou sua carreira profissional. “Na época, ingressei na Telepar e havia a opção de contribuir para um plano de previdência privada. Não era algo comum, mas já há 35 anos existia a preocupação de que não era possível sobreviver apenas com a aposentadoria. Ainda mais quando a idade chega e os gastos com remédios aumentam”, conta.

Para o economista da Faculdade de Administração e Economia (FAE), Amilton Dalledone Filho, os aposentados que queiram descansar devem seguir o exemplo de Silvio. “Quanto mais idosos, mais a previdência social será utilizada. Atualmente, já contamos com um rombo no caixa da Previdência por conta de má gestão e do grande peso do funcionalismo. Para os próximos anos, podemos passar po,r falta de mão de obra, algo que nunca ocorreu no país”, alerta o economista.

Outro ponto que o brasileiro terá de se adaptar é em relação às finanças. “O benefício da aposentadoria sofre correção de juro anual abaixo da correção de salário praticado. Isso faz com que, ano após ano, o poder de renda do aposentado seja reduzido”.

Violência precisa acabar

Uma das demandas de quem luta pelos direitos do idoso é a cobrança por uma Delegacia do Idoso. Apenas em Curitiba, a Promotoria de Defesa dos Direitos do Idoso atendeu uma média de 900 casos durante o ano passado. “Existe uma injustiça muito grande ocorrendo contra os idosos dentro das casas. O pior é que, nessa violência doméstica, costumeiramente o agressor é o próprio filho, o genro, o cônjuge ou até mesmo o cuidador”, revela o membro da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB-PR, Bernardo Rucker.

Por estar inserido no contexto do Brasil, que ocupa a sexta posição na lista de países com mais idosos, para Rucker, o idoso que vive no Paraná deveria contar com um atendimento especializado, similar à Delegacia da Mulher. “Quando essa vítima sofre violência e chega à delegacia para registrar queixa, o atendimento não preparado faz com que ele volte para a situação de risco em que vivia e desista de procurar ajuda. Com uma delegacia especializada, seria possível aumentar o número de atendimentos, mas principalmente melhorar a qualidade do serviço”, defende.

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