Uma pessoa morreu e três ficaram feridas no desabamento de parte da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, que liga Curitiba a São Paulo. Oitenta metros da ponte cederam, fazendo com que um caminhão caísse na represa e outro ficasse pendurado nos escombros. O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (DNIT) prometeu recuperar o acesso em seis meses. Há um ano essa notícia ganhava destaque na imprensa, como um incidente jamais visto em uma obra de engenharia como essa. Porém, o único fato que não aconteceu foi a recuperação da ponte no prazo previsto. Falta de recursos, troca de chefias e de ministro impediram o órgão federal de cumprir a promessa.
Agora o DNIT espera liberar a ponte para o tráfego – estimado em 30 mil veículos/dia – até o final do mês de fevereiro. Segundo o órgão, todos os cuidados foram tomados para que o incidente não se repita. O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado do Paraná, Luiz Anselmo Trombini, critica a demora na reconstrução da via e não acredita que ela estará pronta para receber o tráfego em fevereiro.
Na época do acidente, o custo da reconstrução da ponte foi estimado em R$ 2 milhões. No entanto, já foram investidos R$ 17 milhões na obra – valor que pode chegar a R$ 29 milhões, com a instalação de duas balanças móveis de pesagem em dois trechos da estrada. O supervisor da unidade local da 9.ª Unidade de Infra-Estrutura Terrestre (UNIT), órgão ligado ao DNIT, Ronaldo de Almeida Jares, explicou que, ao contrário do que acontece na construção das pontes atuais – que por limitação de recursos, têm as cabeceiras bastante recuadas – a do Capivari recebeu atenção especial.
Além de uma cabeceira mais reforçada, a ponte ganhou mais um pilar – os pilares oito e nove foram os que despencaram em efeito dominó -, com estacas de sustentação muito mais profundas, chegando a 42 metros de profundidade. Para que isso fosse possível, a represa teve seu nível de água rebaixado e recebeu muros de pedra para conter o escoamento da terra. ?Isso foi uma preocupação na recuperação da ponte?, diz Jares, porque a movimentação do maçico em torno da represa, que foi acentuada pelo excesso de chuvas no período. Na madrugada do incidente, a precipitação pluviométrica foi de 83 milímetros, quase o índice de todo o mês de janeiro de 2001 (89,4 milímetros). A chuva forte foi apontada como a causa do desabamento da estrutura.
Aumento
"Toda a região próxima a lagos é instável, pois com a oscilação da água há uma interferência no lençol freático e movimentação de um material mais fino. Isso geralmente não dá sinal. Possivelmente foi o que aconteceu com a ponte do Capivari, pois as grandes chuvas do período foram o gatilho para a queda da estrutura", comentou o engenheiro. Além desses reforços estruturais, o novo acesso está sendo construído em um misto de concreto e armação metálica. Nesta semana, o DNIT confirmou que dois guindastes, com capacidade de 150 toneladas cada, seriam utilizados para colocar as vigas de sustentação da ponte, unindo as duas extremidades.
De acordo com Jares, a ponte ficará mais longa, passando de 320 metros para 360 metros. Com a entrega da obra, o engenheiro informou que todo o tráfego, que hoje está em pista simples na ponte ao lado, será transferido para o trecho recuperado. "A nossa intenção é fazer obras de recuperação, como a troca de juntas de dilatação e aparelhos de apoio", adiantou. Jares descartou que a estrutura da pista em uso esteja correndo risco, pois todas as providências que eram necessárias para conter a movimentação do maciço, registrada há um ano, foram tomadas.
Balanças serão trocadas por sensores e radares eletrônicos
Os mecanismos para controlar o peso dos caminhões que trafegam pela BR-116 serão mantidos. A previsão é substituir as atuais balanças de pesagem por sensores na pista que indicarão a tonelagem. Radares eletrônicos também serão instalados para o controle da velocidade.
O coordenador no DNIT do Paraná, David Gouvea, disse que a intenção é que esses equipamentos entrem em funcionamento no primeiro semestre deste ano. "Estamos lutando para modernizar os dispositivos", revelou, explicando que os motoristas que estiverem com a carga acima do peso permitido serão multados eletronicamente e receberão a notificação da multa em casa. Até que isso aconteça, as duas balanças móveis que foram instaladas nos dois sentidos da BR-116 serão mantidas.
Gouvea disse que apesar dos custos elevados – são pagos cerca de R$ 140 mil por mês pelos equipamentos e funcionários tercerizados -, houve uma evolução positiva na redução de cargas transportadas. "Nós já pegamos um caminhão com 108 toneladas. Isso não pode continuar acontecendo", ponderou. O permitido é 45 toneladas para caminhões convencionais e 57 toneladas para bitrem. (RO)
Família do caminhoneiro morto não foi indenizada
Além do sofrimento pela morte do pai, o caminhoneiro Zonardi do Nascimento só amargou prejuízos. Ele assumiu todas as dívidas referentes à carreta e ao caminhão que desabaram junto com parte da ponte sobre a represa do Capivari, bem como as despesas pessoais da mãe.
"Dos R$ 7 mil de despesas fixas que eu tenho hoje, R$ 4 mil são as que assumi com a morte do meu pai", disse. Zonardi José tinha 63 anos e foi a única vítima fatal registrada com a queda de parte da ponte. "Meu pai sempre se orgulhava de nunca ter batido nenhum carro ou ter dado uma esbarrada em ninguém. Foi muito azar ele estar passando na ponte naquele momento", falou.
A família de Zonardi entrou na Justiça com duas ações de indenização: moral e material. Enquanto nenhum dos processos é julgado, a mãe dele teria direito de receber uma pensão de R$ 2,3 mil. Porém, até hoje esses valores ainda não foram pagos, embora já exista uma liminar na Justiça garantindo esse benefício.
O procedimento de investigação sobre as causas do acidente também não foi concluído pelo Ministério Público Federal. O órgão informou que solicitou, na época, a instalação de balanças para controlar o peso dos caminhões, sendo essa uma das únicas medidas que o órgão poderia ter adotado.
