Com um gesto simbólico da entrega das armas, os policiais federais de todo Brasil deflagram hoje uma greve por tempo indeterminado. A categoria está reivindicando o enquadramento de todos os policiais na carreira de nível superior. Além disso, querem a abertura de concurso público para 1,5 mil pessoas que atuariam na área administrativa. Com a mobilização, somente os serviços de proteção à testemunhas e carceragem não serão paralisados. A emissão de passaportes só será feita em casos considerados emergenciais.
O presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Paraná e diretor jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais, Naziazeno Florentino Santos Júnior, disse que o próprio governo empurrou a categoria para a greve. “No ano passado nós fizemos uma mobilização de dois dias e o governo prometeu uma resposta para o final de fevereiro. Como agora diz que não tem como nos atender, não deixa outra alternativa para a categoria se não a greve”, falou.
O sindicalista explica que a carreira de nível superior foi instituída como lei em 1996, mas até agora não foi aplicada. Isso representaria uma diferença de cerca de 45% nos salários. Quanto ao concurso, Naziazeno diz que esses funcionários iriam substituir policiais federais que hoje estão afastados das suas funções, desempenhando atividades administrativas dentro da polícia. Hoje, a Polícia Federal conta com um quadro de aproximadamente oito mil policiais, sendo 500 no Paraná.
Para o presidente do sindicato, a greve dos policias federais será oportuna para o governo, pois todas as investigações que são de responsabilidade da categoria serão suspensas. Entre elas está o caso do ex-assessor do Planalto, Waldomiro Diniz. “Com a greve, as investigações sobre o caso vão ficar paradas, e isso deverá desviar a atenção sobre o assunto. E é o que o governo quer”, finalizou.
“Equiparação infringe a lei”
O Ministério da Justiça divulgou nota lamentando a greve que os policiais federais farão a partir de hoje em todo o País. Segundo a nota, a equiparação salarial entre agentes, escrivães e papiloscopistas com os delegados, como reivindica o sindicato da categoria, infringe a Lei 9.266/96, que estabelece tabela específica para as diferentes carreiras da instituição e por isso seria impossível igualar os níveis hierárquicos.
O Ministério da Justiça alega que, pela proposta apresentada pelos policiais, o salário inicial de agentes, escrivães e papiloscopistas subiria de R$ 4.199,97 para R$ 7.788,31, um reajuste salarial de 85,4%. Segundo a nota, nenhuma carreira do funcionalismo público no Brasil recebeu reajuste semelhante no mesmo período e, além do problema jurídico, o impacto anual na folha de pagamento seria de R$ 600 milhões.