A Polícia Federal (PF) divulgou ontem o saldo final da operação Paz no Campo, realizada na terça-feira nas cidades de Laranjal e Palmital. Nela policiais federais fizeram vitorias à procura de armas em fazendas e num acampamento de sem-terra da região. Dezessete pessoas foram indiciadas por porte ilegal de arma e formação de quadrilha. Dessas oito foram presas: José Neves Gonçalves, Josino Santos Ramos Siqueira, José Adir Corrêa Machado, Agenor de Oliveira Machado, Rubens Linhares Clazer, Cezar Linhares Clazer, Cristiano de Jesus Clazer e Lázaro Aparecido de Lima.
Nas fazendas vasculhadas foram encontradas 66 armas de fogo, entre elas duas pistolas 9 milímetros, de uso exclusivo das forças armadas e da PF. Cerca de 2 mil munições foram apreendidas. Também foram encontrados colete, lunetas, rádio transmissor, chumbo, pólvora, roupas camufladas e material para camuflagem.
A Polícia Federal informou também que um computador, que supostamente teria fotos e provas de que há uma milícia armas na região, foi apreendido. Os policiais aguardam apenas liberação judicial para quebrar o sigilo telemático. No acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram recolhidos alguns documentos, mas nenhuma arma de fogo foi encontrada.
Protesto
Cerca de 3 mil famílias ligadas ao MST permanecem em frente às agências do Banco do Brasil em Irati, Santa Cruz do Monte Castelo, Marmeleiro, Nova Londrina, Querência do Norte, Terra Rica, Londrina, Santa Cecília, Peabiru, Mariluz, Reserva e Paranacity desde terça-feira. Segundo um dos coordenadores estaduais do movimento, Dirceu Boufleuer, os manifestantes devem permanecer no local ainda por mais dias. “Estamos negociando nossa pauta de reivindicações que vai desde a liberação de crédito até a agilidade na desapropriação de terras”, disse. A pauta foi entregue à presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização Reforma Agrária (Incra) do Paraná e superintendências do Banco do Brasil no Paraná e nacional.
Audiência
Segundo o advogado da ONG Terra de Direitos e da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares, Leandro Franklin, a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) pode apresentar hoje sua decisão sobre o caso do trabalhador rural Sebastião Camargo, morto em fevereiro de 1998, até fevereiro de 2004.
Na terça-feira aconteceu, em Washington, um audiência que contou com a presença de representantes do governo federal e do Paraná. Na ocasião foram colhidos os últimos depoimentos sobre o caso. “No caso de outro trabalhador, o Teixeirinha, que é bem similar, a OEA condenou o Estado brasileiro a pagar indenização à família e a concluir a investigações e chegar aos culpados”, contou.
PM desocupa Fazenda Império
A desocupação da Fazenda Império, em Cândido de Abreu, no Centro do Estado, foi finalizada na manhã de ontem pela Secretaria de Estado da Segurança Pública. Foi a 25.ª desocupação de terra, entre áreas urbanas e rurais, promovida neste ano pela Secretaria da Segurança Pública. Segundo a secretaria, todas foram pacíficas, anunciadas previamente à imprensa e notificadas a representantes do Ministério Público Estadual e do Poder Judiciário.
Por volta das 9h, uma tropa com cerca de trezentos homens do 1.º Batalhão da PM, acompanhada por um oficial de Justiça, notificou os líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) a respeito do mandado de reintegração de posse, expedido pela Justiça em 4 de outubro de 2001. Segundo a PM, os líderes da ocupação concordaram em retirar as cerca de quarenta famílias que ainda permaneciam acampadas na propriedade. De acordo com o Comando de Policiamento do Interior, os sem-terra retornaram para suas cidades de origem, Cândido de Abreu e Reserva.
Durante a retirada dos sem-terra, a PM promoveu uma revista que resultou na apreensão de algumas foices, machados e facas. A desocupação da Fazenda Império foi anunciada pela secretaria na semana passada. Desde então, cerca de trinta famílias já haviam se retirado da propriedade, mas outras quarenta famílias permaneciam acampadas na área.
Já a Comissão Pastoral da Terra (CPT) acusou a PM de ter utilizado as mesmas táticas do governo Lerner: prisão de trabalhadores, separação de mulheres e crianças, segregação por “grupos de origem”, e insultos, que revelariam a “ideologização” da polícia contra os trabalhadores.
A Fazenda Império fica a 18 km da sede do município. A propriedade, de 1.800 hectares, foi ocupada em 15 de novembro de 1999 por cerca de 350 integrantes do MST.