A Polícia Civil comprovou que a Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas (Apeop) usou pelo menos R$ 500 mil, entre 1999 e 2003, para pagamento de propina a funcionários públicos de entidades municipais e estaduais em troca de informações privilegiadas sobre licitações de obras públicas processadas naquela época. A suspeita era apurada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), dentro da Operação Grande Empreitada, que investiga o envolvimento da associação em fraudes que beneficiariam empresas de seu interesse na execução das obras.
Deflagrada, em junho passado, a primeira fase da operação resultou em denúncias contra 29 pessoas, entre empreiteiros e dirigentes da Apeop, que irão responder na Justiça por crimes de fraude a licitações e formação de quadrilha. Na época, a polícia dizia ter fortes indícios de que funcionários públicos estariam envolvidos no esquema da Apeop, fornecendo informações privilegiadas sobre os processos de licitações em troca de propina. O que se confirmou, de acordo com o delegado responsável pelas investigações, Sérgio Sirino, depois da audiência do principal tesoureiro da entidade, Joaquim Eleutério de Menezes. "Comprovou-se que existia esquema de lavagem de dinheiro dentro da Apeop, pois o tesoureiro confessou a prática do crime. Para contabilizar o dinheiro, era declarado que se destinava a entidades filantrópicas", explica Sirino. É provável que esse dinheiro – pelo menos R$ 500 mil apurados até agora, proveniente das empresas interessadas em vencer as licitações – tenha sido repatriado no exterior. "Acreditamos que parte dele esteja no Uruguai", adianta.
Entre as evidências que deram rumo às investigações, até que a polícia chegasse à confissão de Menezes, estava um recibo de R$ 10 mil, que seria referente a uma doação. Um recado escrito à mão no mesmo papel descrevia a quantia como "valor destinado para funcionários da Sanepar, para molhar as mãos dos membros em função de liberação de nomes das empresas que compram editais para concorrência – reuniões de acerto – dentro da Apeop." O recibo levava a assinatura do presidente da entidade na época (1998), Bernardo Guiss. Ele e outros dois ex-presidentes da entidade, além de um vice-presidente, negaram que suas vozes estariam nas fitas entregues por testemunhas, contendo gravações de reuniões dentro da associação. "Nas fitas comentam sobre a influência do pessoal da Apeop dentro das comissões de licitação, acertando os processos e compondo preços. Das vinte pessoas ouvidas, somente ele (Guiss), e os ex-presidentes Gilberto Piva, Fernando Gaissler e o vice Fabio Castelo Branco Gradowski negaram serem suas as vozes, mas se submeteram à colheita do material fonográfico, que passará por perícia no Instituto de Criminalística do Estado", garante o delegado.
Segunda fase
A partir de agora, o foco das investigações da Grande Empreitada serão as licitações da Prefeitura de Curitiba entre os anos de 98 e 99. "Já pedimos remessa de todas as licitações de obras públicas nesses anos", enfatiza Sirino.