O projeto de lei (PL) que estabelece que 50% das vagas nas universidades federais devem ser destinadas a alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas, mesmo embuído em muita polêmica, não deve apresentar dificuldades em ser implantado nas duas instituições de ensino superior federal no Paraná. Enquanto que na recém-criada Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) cerca de 54% dos aprovados já são oriundos da escola pública, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) é pioneira em utilizar o sistema de cotas nos seus vestibulares.
"Até por sermos pioneiros, acredito que os autores do projeto de lei poderiam ter nos consultado", diz o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Junior. Para ele, caso o PL seja imposto verticalmente, ou seja, com regulamentações vindas do Ministério da Educação (MEC), sem respeitar a especificidade de cada uma das instituições espalhadas pelo País, deverão ocorrer distorções na entrada desses alunos. "A realidade que a Universidade Federal da Bahia enfrenta é diferente da nossa", aponta.
De acordo com Moreira, é necessária uma divisão do vestibular em duas fases, adotando as cotas apenas na segunda delas, como ocorre na UFPR, impedindo que se corra o risco de aprovar alunos despreparados. "Isso dá credibilidade ao processo, evita evasão posterior e garante que os alunos terão capacidade para acompanhar o curso não sendo vítima de preconceito", afirma o reitor. No último vestibular, 20% das vagas foram destinadas para negros e 20% para candidatos que estudaram toda a vida em escola pública.
Já a UTFPR ainda não adotou o sistema de cotas. "Estamos aguardando um consenso sobre a forma de aplicar as cotas, para que não tenhamos que voltar atrás em alguma decisão prematura que tomarmos", explica o pró-reitor de graduação da instituição, Carlos Eduardo Cantarelli. "Mesmo assim, no último vestibular cerca de 54% dos aprovados vieram da escola pública", revela. O pró-reitor só tem ressalvas quanto ao tempo de aplicação que o PL quer colocar em prática nas universidades. "Somos favoráveis ao princípio da lei, mas é necessário que haja tempo para que ela seja adotada de maneira justa", diz. O PL prevê que o sistema seja implantado gradualmente (25% ao ano) num prazo máximo de quatro anos. Em dez anos de funcionamento, o sistema poderá ser revisto pelo Ministério da Educação.
Câmara
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou na quarta-feira o PL que cria o sistema de cotas nas universidades federais. Além de reservar 50% das vagas para alunos das escolas públicas, o projeto diz que dentro desse percentual devem ser destinadas vagas para negros e índios de acordo com o percentual racial medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em cada estado. Em princípio o projeto irá direto para votação no Senado, mas o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, defendeu ontem que ele seja votado pelo plenário.
Viagem lucrativa
O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Junior, voltou ontem de uma viagem a Brasília, onde foi buscar recursos para a instituição. "Voltei com quase R$ 1 milhão no bolso", informou. O principal assunto de uma reunião com o ministro da Educação, Fernando Haddad, foi a Universidade do Litoral. "Conseguimos a garantia de que o MEC vai bancar toda a instalação da rede de internet entre a sede em Curitiba e a de Matinhos, a qual espero estar funcionando até o início do ano letivo", disse. Além do comprometimento com a rede, o reitor adiantou que serão abertos mais dois cursos (gestão e empreendedorismo e outro a ser definido) e serão contratados mais professores e funcionários no campus do litoral.
