A cidade de Curitiba, conhecida por sua qualidade de vida e parques, vem gerando polêmica entre os setores envolvidos com o turismo. Enquanto algumas entidades acham que a visitação na capital está estagnada por falta de novidades, a Secretaria Municipal de Turismo comemora o crescimento. Se a sugestão é revitalizar o centro, surgem propostas de criação de festas temáticas.
A Associação Brasileira de Agências de Viagens do Paraná (Abav/PR) relembra que apresentou, há cerca de cinco anos, três sugestões para atrair turistas e fomentar atividades econômicas na área central da capital, e que até hoje não foram aproveitadas. O presidente da Abav/PR, Antônio Azevedo, comenta que a primeira sugestão era de estender a Feira do Largo da Ordem para o calçadão da Rua XV de Novembro. Com isso, argumenta, ?daria mais oportunidades para quem quer participar da feira, além de criar uma circulação maior de pessoas por outras ruas do anel central da cidade?.
Dentro dessa proposta, continua Azevedo, poderia ocorrer setorização de produtos ou serviços por quadras. Além disso, ele defende que o comércio da região também poderia abrir as portas, já que os produtos comercializados na feira não iriam competir com as lojas. Com isso, Azevedo acredita que o centro da cidade se tornaria mais atrativo, tanto para moradores como para os turistas, que muitas vezes deixam que visitar o centro por falta de atrativos ou dificuldade de encontrar estacionamento. ?Eu sei que essa proposta pode gerar polêmica, pois toda a mudança tende a ser polêmica. Mas acho plenamente viável?, opina.
Outra sugestão da Abav é uma total revitalização da Rua 24 Horas, que hoje, conforme Azevedo, deixou de ser incluída no roteiro turístico de Curitiba. A idéia é transformá-la em uma Rua das Etnias, onde se possa encontrar produtos típicos, como artesanato e gastronomia, de diversos países. O local também pode servir de espaço permanente para manifestações culturais. ?Todos os meses podemos comemorar datas significativas desses países, criando uma agenda constante de atividades no local?, aponta.
Uma terceira sugestão da associação seria a criação de um eixo de animação na região central, abrangendo desde a Rua Barão do Rio Branco, próxima à Câmara Municipal, até as proximidades do Largo da Ordem. A proposta é de uma revitalização total dessa área, criando uma nova opção de turismo, incluindo a criação de um passeio feito por um trolley – uma espécie de ônibus adaptado -, que percorreria os lugares que fazem parte desse eixo. Na opinião do presidente da Abav, poderiam ser estimulados nesse trecho o tombamento de casas históricas, a instalação de antiquários e outros atrativos, que transformariam a região em um novo produto turístico.
A implantação dessas sugestões seriam, segundo Azevedo, uma novidade na cidade. ?Hoje nós estamos perdendo turistas que não voltam mais para Curitiba porque não existe nenhum novo atrativo. O turista não cai do céu, precisa ser atraído?, afirma. Para ele, falta na cidade um plano integrado de turismo para discutir o setor e divulgar a cidade.
Capital é competitiva, fala especialista
Se, por um lado, o turismo de lazer reclama da baixa no número de visitantes, o turismo de negócios vai muito bem, obrigado. O setor comemora um crescimento em torno de 20% e informa que Curitiba está em sexto lugar no ranking brasileiro para a realização de eventos, atrás apenas de Rio de Janeiro, Salvador, Foz do Iguaçu, São Paulo e Belo Horizonte. Esse desempenho positivo estaria sendo o reflexo de ações que estão sendo desenvolvidas pelo governo federal e os atrativos que só o estado e Curitiba possuem.
A avaliação é do representante do Curitiba Convention & Visitors Bureau (CCVB), Júlio César Urban. ?Curitiba é uma cidade organizada, tem parques, sistema de transporte e bairros como Santa Felicidade. É daqui que sai um passeio de trem único no mundo, que passa pela Mata Atlântica, rica em biodiversidade, sendo próximo ainda do canion do Guartelá?, comenta Urban. Para o especialista, isso torna a capital competitiva com outras cidades do mundo e cada vez mais atraente para o turismo de negócios e eventos.
Quanto à queda no turismo de lazer apontada pela Abav, o representante do CCVB acredita que isso vem acontecendo como reflexo de uma perda no poder aquisitivo das pessoas, já que a falta de novidades não afeta o turismo de eventos.
Secretário da pasta diz que setor não está em crise
O secretário de Turismo de Curitiba, Luiz de Carvalho, afirma que não conhecia as propostas da Abav e discorda que o turismo na capital esteja em crise. ?Pelo contrário, devemos ter um crescimento acima de 15% em 2006, atingindo a marca de dois milhões de turistas, que é uma marca maior que Foz do Iguaçu, que atingiu agora a marca de um milhão de visitantes?, compara. Mas Carvalho considera que as propostas podem ser válidas, desde que amplamente discutidas. Ele avalia como bastante interessante a extensão da Feira do Largo da Ordem para a Rua XV, mas para que ela fosse implantada precisaria ouvir os comerciantes da região. Ele admite que seria uma alternativa para atender a lista de espera por uma vaga da feira – hoje existem 1.150 feirantes e outros 800 estão na lista de espera.
Sobre a Rua 24 Horas, o secretário informa que existem projetos para o local, mas estão a cargo da Urbs, que é quem administra o espaço. Já sobre a criação de um atrativo no centro, Carvalho adianta que a Prefeitura já vem trabalhando numa idéia semelhante, que é a criação de um passeio em um bonde sobre trilhos, o qual fará o percurso entre a Praça Eufrásio Corrêa e o Passeio Público. Além disso, anuncia que a Prefeitura está trabalhando na criação do Conselho Municipal do Turismo e na aprovação de uma lei de incentivo ao turismo, cujos recursos serão alocados junto ao ISS e IPTU para aplicação em três eventos distintos: Festa Étnica, Festival de Inverno e Natal.
?A Festa Étnica será uma espécie de Festa das Nações, com uma grande feira gastronômica e artesanato. Já o Festival de Inverno será para cultivar a tradição do frio de Curitiba e promover atividades como pista de patinação, entre outros atrativos. E o Natal é algo que vinha sendo esquecido e que agora queremos impulsionar e tornar a cidade um roteiro atrativo nessa época do ano, com grandes ações no Largo da Ordem, presépio na Santos Andrade e carreatas nos bairros da cidade?, explica Carvalho. O secretário também revela que uma comissão foi criada a fim de discutir uma nova função para o Parque Barigüi, o qual irá passar por uma recuperação para se integrar melhor ao meio ambiente. ?Já surgiram propostas no sentido de transformá-lo em um espaço cultural ou fitness. Mas tudo ainda será estudado e sondado junto à população, pois uma cidade se torna agradável para o turista se for agradável para o seu morador?, afirma Carvalho.
