A Sociedade Rural do Oeste (SRO) promoveu ontem, em Cascavel, região oeste do Paraná, um protesto contra as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Estado. Os manifestantes bloquearam durante a manhã a Avenida Carlos Gomes, que dá acesso à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
A Polícia Militar de Cascavel interveio para evitar um possível conflito entre ruralistas e os sem terra que chegaram ao local para participar da 7.ª Jornada de Agroecologia, que começou ontem e acontece até o próximo sábado na Unioeste. Os participantes da jornada encontraram os ruralistas e não houve confronto.
Quem já estava na universidade quando os ruralistas chegaram à avenida não percebeu nenhuma movimentação, segundo conta José Maria Tardin, integrante da Via Campesina.
“Ignoramos completamente o ato. Apenas soubemos que estavam num grupo pequeno, de 40 a 50 pessoas, e que tentaram bloquear um espaço da avenida, mas a pressão da polícia foi suficiente para evitar qualquer contato conosco”, disse.
Para os próximos dias, os sem terra devem permanecer em alerta para alguma nova manifestação dos ruralistas, embora não haja nada confirmado. “A tensão por questões agrárias provocada pelos fazendeiros sobre camponeses e sem terra na região oeste é histórica. Já tivemos vários assassinatos e por isso orientamos para que todos evitem a aproximação de pessoas que queiram provocar conflitos. Estamos de sobreaviso”, afirmou Tardin. O sem terra falou ainda que o que mais incomoda os ruralistas é o projeto de agricultura diferenciado do MST, em oposição ao agronegócio.
De acordo com presidente da SRO, Alessandro Meneghel, a defesa do agronegócio foi o centro da manifestação. “Nosso protesto é de repúdio contra as invasões e o não cumprimento da lei por parte do MST. Nós nunca invadimos a terra de ninguém”, afirmou Meneghel, que argumenta que 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional vem do agronegócio.
“Eles trazem retrocesso para o País. Acreditamos que toda reivindicação é justa, desde que não passe por cima do direito de ninguém”, defendeu. E alerta: “Cada ação deles (MST) vai provocar uma reação nossa”.
São Domingos
Ainda em Cascavel, o juiz da 1.ª Vara Federal, Vitor Marques Lento, determinou a desocupação forçada das famílias do MST acampadas na Fazenda São Domingos, no Complexo Cajati.
De acordo com o MST seriam 600 famílias que ocupam a fazenda desde o início de abril, mas segundo a ação da Justiça, o número pode ser bem menor, de 150 famílias. Como existem áreas adjacentes também ocupadas pelo MST, o movimento pode ter considerado famílias desses acampamentos.
Um dos sem terra, que se identificou apenas como Moacir, afirmou que a intenção não é sair da área, porque as famílias não têm para onde ir, e que até segunda-feira outras cerca de 150 famílias devem chegar para juntar-se ao grupo.
A Polícia Federal (PF) recebeu a decisão judicial na última terça-feira e o delegado-chefe da PF do município, Algacir Micalovski, informou que está “deliberando com outros órgãos”, sem informar a data prevista para a desocupação.