Quase trinta horas antes do vencer o prazo concedido pelo governo do Estado para os sem-teto deixarem o prédio do antigo Banestado, no centro de Curitiba, a Polícia Militar cercou o edifício e isolou a área próxima. A intenção era impedir a entrada de mais sem-teto no local. O grupo tem prazo até hoje, às 18h, para deixar o edifício. Depois disso, a retirada deve acontecer mediante força policial.
Por volta das 13h de ontem, viaturas do 12.º Batalhão da PM pararam em frente ao edifício Saint Hilaire, na Marechal Deodoro, ocupado pelos integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) desde a madrugada de 7 de junho. Aproximadamente 40 policiais cercaram o prédio e fecharam duas das quatro faixas da via. Apesar da garantia do capitão Marco Aurélio Czerwonka, da 12.ºBPM, de que a polícia não entraria ontem no prédio, o clima era de bastante tensão. Viaturas da Tropa do Choque passavam constantemente em frente ao prédio e lojas chegaram a fechar parte das portas, temendo um confronto.
De acordo com o chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Segurança Público, Marcelo Jugend, o deslocamento de policiais aconteceu com a ameaça da coordenação do MNLM de levar mais gente para o prédio e aumentar a resistência.
A ameaça foi feita ontem pela manhã, quando lideranças do Movimento estiveram reunidos com Marcelo Jugend e pediram prorrogação do prazo para deixarem o prédio. Como o pedido foi negado, as lideranças ameaçaram resistir. “Estamos na tentativa de solucionar amigavelmente a situação. A Secretaria de Segurança Pública, no entanto, não pode resolver um problema que cabe ao município. Estamos aqui apenas para cumprir uma ordem judicial”, afirmou Jugend, referindo-se ao mandado de reintegração de posse concedido pelo juiz da 14.ª Vara Cível, Benjamim Acácio. Segundo Jugend, ele próprio tentou entrar em contato com a direção do Cohab, mas sem sucesso.
Comissão
Por volta das 15h, vários parlamentares do PT, entre eles os deputados estaduais Tadeu Veneri e Padre Paulo e os vereadores Adenival Gomes e André Passos chegaram ao local, além do advogado do MNLM, Carlos Albuquerque, e o advogado Darci Frigo. Uma comissão foi formada na tentativa de negociar com os sem-teto. De acordo com Marcelo Jugend, da Secretaria Estadual de Segurança Pública, dois a três locais foram sugeridos, para onde poderiam ser deslocados os sem-teto.
A aposentada Janete Gouvêa estava no prédio desde junho. Ontem pela manhã ela saiu para ir ao hospital e quando voltou não pôde mais entrar no edifício. “A polícia mentiu para mim. Disse que eu não poderia entrar porque não há mais ninguém, mas é tudo mentira”, declarou. “Minhas coisas estão aí dentro. Eu moro aí.”
O líder do MNLM, Anselmo Schwertner, voltou a afirmar ontem que não sai “de mãos abanando.” “Só saímos com uma negociação fechada. O inimigo hoje é quem está encastelado na Prefeitura de Curitiba”, atacou.
