PF detém empresários e policiais envolvidos em crime

Uma operação conjunta entre a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e a Polícia Federal (PF), prendeu ontem, nas cidades de Curitiba e Matinhos, dois empresários acusados de cometer crimes contra instituições financeiras usando a internet, e mais sete policiais que tinham conhecimento do crime e que estariam extorquindo dinheiro dos hackers mediadores das operações fraudulentas.

A operação, batizada de Pontocom.PR, é um desdobramento da operação Pontocom, deflagrada pela Polícia Federal no último dia 1.º, em que hackers foram presos na capital paranaense e em Porto Alegre (RS), acusados de fazer parte de uma quadrilha com sede em Curitiba, que interceptava transações bancárias em todo o Sul do País. Os empresários, investigadores e delegados detidos nesta terça-feira foram denunciados pelos adolescentes presos no início do mês.

De acordo com a PF, os empresários curitibanos Vandoir Bica Pedro, proprietário da empresa Esbra Indústria Mecânica, sediada no bairro Hauer, e Cláucio Pinheiro de Moura, dono do mercado Supergula, no Centro da capital, são acusados de terem desviado, juntos, uma quantia média de R$ 4 milhões dos bancos Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Unibanco e Banrisul, além da Editora Abril. Com eles foram apreendidos também dinheiro, carros importados e documentos de imóveis que podem ter sido comprados com o dinheiro desviado das contas.

Utilizando os serviços dos hackers, eles interceptavam as operações online dos clientes dos bancos através de mensagens identificadas como se fossem da própria instituição, recolhendo assim dados pessoais e senhas. ?Os hackers saudavam as contas dos empresários, como dívidas, despesas, prestações assumidas junto aos bancos, usando o dinheiro dos clientes e cobrando porcentagem em torno de 40% sobre os valores?, explica o agente da PF Alexander Porto. Entre as apreensões de documentos e computadores nas empresas, a Polícia pegou um holerite em nome de um dos hackers, constando o número da conta bancária em que devia ser depositado o dinheiro: um total de R$ 1.500, por dia de serviço.

Com o sumiço dos valores, os bancos tinham de restituir as perdas, ocasionando o prejuízo. Os empresários também criavam firmas fantasmas para fazer dívidas e comprar materiais, de modo que, identificada a fraude, não se conseguisse chegar ao nome dos envolvidos.

?Existiam muitos laranjas, gente simples, que devia arrecadar uma quantia ínfima para fazer isso. Mas já estão sendo identificados?, garante o agente. A PF estima que os valores desviados podem ser maiores do que o que se sabe até o momento, bem como a possibilidade de envolvimento de mais empresários. ?Ainda não sabemos a proporção total do golpe, e até que ponto estavam agindo, mas não devem ter assediado somente dois empresários.?

Tanto os hackers – todos já foram pegos pela Polícia, sendo dois de 15 e um de 17 anos – como os empresários, devem responder pelos crimes de estelionato, formação de quadrilha, furto qualificado e interceptação ilegal de telemática. A pena pode somar até vinte anos de prisão.

Ameaças e extorsão de dinheiro dos hackers

Os delegados da Polícia Civil Paulo Roberto Padilha, do 13.º Distrito Policial e Roberto Fernandes, da delegacia de Matinhos, além dos investigadores Gerson Camargo, Luiz Fernando de Abreu (ambos do 7.º Distrito Policial), Carlos Pereira (1.º Distrito Policial), Getúlio Lisboa Vieira e Roger Rocha Gallotti (ambos da delegacia de Matinhos) foram presos ontem.

Sobre eles recai a acusação de extorquir dinheiro dos hackers que agiam pelos empresários, uma vez que teriam conhecimento do esquema e, dessa forma, vinham ameaçando os adolescentes. Também houve mandado de prisão expedido para o delegado do 7.º Distrito, Hamilton Cordeiro da Paz, que está em viagem de férias, mas já informou que se apresentará à polícia na próxima semana.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Polícia Federal, o envolvimento dos policiais foi identificado através do depoimento de um dos hackers presos pela Operação Pontocom, no início do mês. Segundo o adolescente, ele teria sido capturado em setembro do ano passado, no litoral do Paraná e, para liberá-lo e não desmantelar o esquema de fraudes pela internet, os policiais teriam cobrado mais de R$ 20 mil.

Um mês depois, o mesmo adolescente foi abordado por outros policiais no Aeroporto Internacional Afonso Pena, região de Curitiba. Segundo o hacker, mais uma vez ele teria sido obrigado a pagar propina de R$ 40 mil para que o esquema não fosse investigado. ?Os policiais descobriram todo o esquema dos hackers e para não prendê-los cobravam propinas da quadrilha?, resumiu o delegado da Polícia Federal Fernando Francischini. Os policiais civis presos devem responder pelos crimes de concussão, abuso de autoridade e prevaricação. (LM)

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