continua após a publicidade

Um funcionário da Caixa Econômica Federal, que atuava há sete anos na instituição financeira, é apontado como segundo líder de um grupo que trouxe prejuízo de R$ 1,2 milhão. Segundo a Polícia Federal (PF), a quadrilha era bem formada e fazia saques nas contas poupanças a partir de documentos falsos. Até um ex-jogador de futebol, do Atlético Paranaense, foi vítima do grupo.

As investigações começaram há mais de um ano e levaram à prisão de 13 pessoas. Além disso, foram cumpridos ainda 23 mandados de busca e apreensão, 13 de condução coercitiva, seis de sequestro de bens e um mandado de suspensão do exercício da função pública, por envolver o funcionário da CEF.

A ação policial se deu no Paraná, nas cidades de Curitiba, Paranaguá, São José dos Pinhais, Almirante Tamandaré, Fazenda, Colombo, Matinhos e Guaratuba, e também em João Pessoa, na Paraíba, e em Palhoça, Santa Catarina. “Começamos com três vítimas, buscando a real causa desses furtos, mas identificamos 70 pessoas. A maioria dos fatos são contra a Caixa, mas ele também teve um caso com um gerente do banco Santander de Paranaguá, que foi conduzido para ser ouvido”, contou o delegado Rodrigo Morais.

continua após a publicidade

Além de um trabalho minucioso da PF, que envolveu uma equipe grande, as investigações também tiveram interceptações telefônicas, que duraram aproximadamente 10 meses. “Foram apreendidos muitos materiais na casa dos investigados e agora vamos pesquisar para saber desde quando essas fraudes ocorreram”, explicou o delegado.

Como funcionava

A investigação começou depois que as três vítimas procuraram a Caixa para denunciar que havia saques em suas contas, mas que não as operações não tinham sido feitas por elas. A PF foi comunicada e os investigadores logo descobriram que o saque do dinheiro era, na verdade, a etapa final de um grande esquema.

continua após a publicidade

“Nós começamos a ter mais detalhes da situação a partir de uma prisão em flagrante, em 9 de maio de 2016. Descobrimos que a presa poderia ter relação com o grupo, que realizava diversos crimes para chegar a etapa do saque”, explicou o delegado.

Segundo as investigações, o grupo era liderado por um estelionatário, mas o funcionário da Caixa atuava como uma espécie de segundo líder. “Nenhuma ação do grupo seria possível sem a participação ativa dele, que agia até mesmo enquanto atendia clientes”. Além dos dois, outras pessoas participavam do esquema no fornecimento de dados das pessoas, na elaboração dos documentos falsos e no saque dos valores. “Ele (o funcionário da Caixa) só conversava com o líder do grupo, não falava com as outras pessoas”.

Bem organizados

A quadrilha, conforme avaliou a PF, era bem organizada e procurava pelas vítimas mais propícias para o negócio. “Eram pessoas aposentadas, que mantinham a poupança para usar quando precisasse, e também empresários. Até o jogador de futebol foi alvo do grupo”, comentou o delegado.

A ação do grupo basicamente se desenvolvia em seis etapas. Segundo a PF, na primeira, os bandidos atuavam com o foco de pesquisar e identificar as contas das possíveis vítimas. “O líder indicava CPFs ou nomes de pessoas para que o funcionário da Caixa pesquisasse no sistema. Ele buscava contas poupanças e o perfil tinha que ser o de uma conta com valor grande e que não apresentasse histórico de movimentações”.

Com os dados em mãos, o funcionário da Caixa passava tudo para o líder do grupo, que dava sequência à segunda etapa da ação. “O líder do grupo entrava em contato com pessoas que tinham acesso a bancos de dados, gente que conseguia acessar cadastros e outros dados necessários, como a assinatura das vítimas”. Conforme a PF, entre estes colaboradores do grupo estava um funcionário dos Correios, que foi preso, e um funcionário do 11º Tabelionato de Curitiba, que foi conduzido para ser ouvido.

Policiais prenderam 13 pessoas. Foto: Divulgação/PF.

A terceira fase do esquema era feita a partir do momento em que o líder do grupo tinha em mãos a assinatura das vítimas. “Ele encaminhava todos os dados para que fosse feito um RG ou CNH falso. A foto que era colocada neste documento era a da pessoa que se passaria pelo cliente”, explicou.

A pessoa que se passaria por cliente ligava para a Caixa e informava que tinha perdido o cartão, que era cancelado e um novo era enviado. “O código de rastreamento era identificado e passado para o líder do grupo, que monitorava o site dos Correios para ver quando que o cartão entraria no sistema para ser entregue”. O grupo monitorava o rastreamento e, no dia do recebimento da correspondência, agia novamente. “Se passando pelo cliente, a pessoa ficava na rua, até que via o carteiro e fingia ser o destinatário. Assinava e pegava o objeto”.

Ainda de acordo com a PF, quando não conseguiam esperar no endereço das vítimas, os bandidos ligavam para os Correios e, se passando pela vítima, pediam para que a correspondência fosse deixada em um Centro de Distribuição Domiciliária (CDD). “Com o cartão em mãos, eles botavam em prática a última etapa, que era o saque. Com o cartão em mãos, os criminosos iam até a agência e, com documento falso, desbloqueavam o cartão e começavam a fazer saques até esgotar o dinheiro das poupanças”, detalhou o delegado.

Prejuízo grande

A Polícia Federal buscou o histórico de movimentação do funcionário da Caixa e identificou pelo menos 70 fraudes que ele teria consumado. O valor do prejuízo soma um total de aproximadamente R$ 1,2 milhão em cerca de 400 operações de saques e transferências.

Grande parte do dinheiro, conforme a PF, ficava com o líder principal da quadrilha. “Ele era o responsável por distribuir uma parte pequena aos executores e uma parte maior para o funcionário da Caixa”.

O funcionário da Caixa, que trabalhava em São José dos Pinhais até o mês de setembro deste ano, foi removido para João Pessoa, onde foi preso.  “Até o momento sabemos que ele mesmo solicitou a transferência, mas ainda não sabemos o motivo de ter pedido isso”. Ele e os outros indiciados vão responder por furto qualificado, estelionato qualificado, peculato (por envolver funcionário público), uso de documento falso, falsificação de documento público e associação criminosa.

Vídeo

Veja momento da operação: