Ser adolescente não é fácil. Ainda mais quando se tem uma estatura fora dos padrões dos outros jovens, o que o torna desengonçado e com dificuldade para encontrar roupas, calçados e acessórios adequados.
Além disso, os adolescentes de agora estão crescendo mais do que em gerações anteriores. Eles também têm dificuldades para achar o vestuário correto, recorrendo muito cedo à numeração adulta.
A jornalista Luciana Zonta, de 28 anos, atingiu 1,83 metro de altura quando tinha 15 anos. Somente as pernas dela medem 1,12 metro. Na adolescência, encontrava roupas com muita dificuldade, um problema que persiste hoje: “Eu tenho manequim 40, o que piora ainda. Consigo a altura das calças somente a partir do 46. Eu tenho que desfazer a bainha das calças menores ou ajustar as mais largas”, explica. A mesma situação acontece com blusas e jaquetas. “Eu preciso procurar os locais onde existe uma numeração maior. Infelizmente, têm roupas que eu gosto e não posso comprar”, relata.
Não existem lojas especializadas para pessoas altas, principalmente de roupas. Os altos acabam recorrendo aos locais que vendem confecções para obesos. Já com os calçados, é possível encontrar estabelecimentos que oferecem tamanhos grandes. A loja Masiero, no centro de Curitiba, tem sapatos femininos até o número 43 e masculinos até o 52. “São sempre as mesmas pessoas que procuram os sapatos de maior numeração, principalmente mulheres”, esclarece Inês Masiero, gerente da loja. Para atender à demanda e aos desejos dos clientes, há vários modelos de calçados, desde o tênis até o chanel.
Pouca saída
Ela conta que não dá paraloja continua aberta por causa dos consertos, vendas de acessórios e fabricação de sapatos para dança. Inês revela que algumas empresas que fabricavam calçados de grande numeração deixaram de atuar no ramo pelo pequeno retorno do investimento aplicado. “Não há muita saída desse tipo de sapato. Conheço uma fábrica que, para fazer os números 41, 42 e 43, investiu R$ 17 mil, especialmente com as navalhas adequadas. Mas só vendeu 1,5 mil pares em todo o Brasil. Ela não vai investir na coleção de verão”, resume.
Crescimento vem da melhora nutricional
O pediatra Flávio Hiromoto, do Hospital Santa Cruz, em Curitiba, explica que os meninos crescem até os 18 anos, e as meninas até os 15. Dentre os fatores que estão aumentando a estatura dos adolescentes, ele destaca a parte nutricional, pois as fontes de alimento estão disponíveis mais facilmente.
“Hoje existe uma alimentação de melhor qualidade, apesar do fast food que eles adoram. A explicação não está na quantidade, mas sim na qualidade. A orientação nutricional ajuda muito no desenvolvimento da criança e do adolescente”, afirma. Para Hiromoto, o aumento da altura também está relacionada com o pouco esforço físico realizado pelos jovens. “Na formação dos ossos, há uma área de crescimento sensível ao impacto. O esforço forte e repetitivo destrói esta área, o que faz com que o adolescente não cresça tanto”, comenta.
Ele cita como exemplo as atletas de ginástica artística que estão participando das Olimpíadas de Atenas. “Elas são muito baixinhas por causa disso. Sempre digo aos pais que as crianças precisam de orientação de um professor de educação física para a realização das atividades corretamente, e para evitar o esforço repetitivo”, ressalta.
O aumento no crescimento faz parte da evolução do ser humano, acredita o pediatra. E para constatar isso não é preciso recorrer à ciência, exames e estudos. “É comum encontrar jovens de 20 anos que, comparados ao pai e ao avô, são muito mais altos”, comenta Hiromoto. “As pessoas estão dando mais chance para o crescimento e desenvolvimento máximo do potencial genético.”
A altura excessiva não prejudica a saúde do indivíduo, de acordo com ele. Mas se aparecerem problemas, um médico deverá ser consultado para analisar o caso individualmente. A jornalista Luciana Zonta enfrenta um problema desde a adolescência: a falta de equilíbrio. “Eu calço 39 e caio com muita facilidade. Imagine, então, com sapato de salto. Não posso usar de jeito algum. Apenas coloco um com salto bem pequeno se a ocasião pede”, declara. Ela lembra que na adolescência era tão desengonçada que precisou freqüentar um curso de modelo para poder aprender a andar corretamente. “Na época, eu não gostava de ser alta, mas hoje estou muito feliz com a minha altura”, comenta.
Magreza
O pediatra acredita que os pais não devem se preocupar com a magreza do adolescente muito alto. O jovem deve estar entre os parâmetros do Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado com divisão do peso pelo quadrado da altura. Para os adultos, o índice deve ficar entre 20 e 25. Depois disso é caracterizado sobrepeso e obesidade. “Na criança, o IMC é um pouco mais baixo, ficando entre 16 e 19 muitas vezes. Na consulta ao médico, é importante verificar o índice. Não adianta os pais pensarem que o filho está magro e dar muita comida para ele. A criança pode ficar obesa”, alerta Hiromoto. (JC)