"Deserto verde" é uma das definições dadas por ambientalistas para as florestas plantadas de eucalipto, uma espécie usada pela indústria brasileira. Os órgãos de defesa do meio ambiente dizem que o eucalipto causa o esgotamento da água na área onde está plantado, prejudicando toda a biodiversidade do local. A plantação acabaria até com nascentes de rios. Pesquisadores, porém, refutam essas teorias. Dizem que o eucalipto tem os seus benefícios e, se for plantado de maneira adequada, não causa prejuízos. Além disso, o eucalipto exerce uma outra função: diminui a pressão sobre os remanescentes de mata nativa.
O eucalipto é uma espécie originária da Austrália que se espalhou pelo mundo. Foi trazida para o Brasil por imigrantes em meados do século XIX. No início do século passado, o engenheiro Edmundo Navarro de Andrade, da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, começou a estudar espécies que poderiam substituir as árvores nativas nos dormentes das ferrovias e na produção de lenha. Foi assim que o eucalipto começou a se destacar. A árvore tem um rápido crescimento, adquirindo mais biomassa em menos tempo em relação às espécies nativas. Entre as aplicações do eucalipto estão papel, celulose, siderurgia, carvão vegetal e móveis. As florestas plantadas, cuja produção é chamada de silvicultura, ocupam apenas 0,5% do solo brasileiro. O eucalipto perde em área plantada para o pinus, outra espécie exótica nessa atividade. Existem 600 espécies de eucalipto, plantado em mais de cem países.
Para o pesquisador Guilherme de Castro Andrade, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas, existe uma visão distorcida que propaga prejuízos do eucalipto, em um ponto de vista mais emocional do que científico. "Existem muitas pesquisas em hidrologia, de várias pessoas respeitadas, que refutam o que muitas organizações não governamentais dizem. O impacto do eucalipto é pequeno em comparação às atividades de agricultura e pecuária", afirma.
Andrade comenta que a hidrologia de uma floresta plantada não é muito diferente de uma mata nativa. Como a produção de biomassa é rápida, existe um consumo grande de água nos primeiros momentos, quando a árvore começa a crescer. O pesquisador diz que a cana-de-açúcar, uma das culturas mais difundidas do País, consome a mesma quantidade de água que o eucalipto. O pesquisador informa que as áreas com baixa precipitação se tornam pouco viáveis para a silvicultura, como a caatinga. Se não houver irrigação, não haverá ganho de biomassa. O arranque de crescimento faz com que o eucalipto precise de mais água. "Mas, em compensação, consegue melhorar a qualidade da água que chega aos lençóis subterrâneos e aos rios, em comparação com as áreas agrícolas", enfatiza.
Andrade também não concorda com as declarações de que o eucalipto secaria nascentes. De acordo com ele, tudo depende de onde está localizada a nascente. Se for em uma área sem florestas em volta, com vegetação rasteira, o eucalipto pode afetar a produção de água local porque as árvores plantadas terão uma biomassa maior do que a vegetação natural. "Mas isso não é exclusivo do eucalipto. Qualquer espécie provocaria este efeito", ressalta. Para não correr riscos, o ideal é manter a área em volta da nascente como ela é originalmente. A microbacia da região é estudada antes de se começar o plantio de árvores, para manter a sustentabilidade do sistema e atenuar os impactos.
Andrade também desmente que as florestas plantadas causariam grandes erosões e perdas de solo. "Um fator favorável do eucalipto é que há menos perda de solo. Ele fica protegido porque são ciclos de produção maiores do que a agricultura, que trabalha com espécies anuais. Além disso, a agricultura usa mais agrotóxicos do que as florestas plantadas", conta Andrade. A plantação florestal recobre consideravelmente o solo, diminuindo as chances de erosão. O terreno é pouco atingido de maneira direta com as chuvas, principalmente se comparado com algumas espécies agrícolas, de acordo com o pesquisador.
Clima favorece plantação
O Brasil é o país que mais desenvolveu a plantação de eucalipto no mundo, mesmo tendo uma cobertura florestal grande. O potencial de terras e as condições climáticas favoreceram esse tipo de atividade, em conjunto com estudos desenvolvidos por institutos de pesquisa. As maiores taxas de crescimento de eucalipto no País estão nas áreas plantadas no litoral do Espírito Santo e sul da Bahia, onde há uma alta precipitação de chuvas e uma insolação abundante.
A silvicultura exerce um papel importante porque tira a pressão existente sobre os remanescentes de florestas. "A sociedade precisa de madeira e seus derivados. Imagine se não tivesse o eucalipto e o pinus. Onde se supriria essa demanda? Provavelmente nas florestas nativas. Isso agravaria a situação de devastação existente, como a que acontece na floresta amazônica para a abertura de pastagens e plantio de grãos", relata o pesquisador Paulo Eduardo Telles dos Santos, também da Embrapa Florestas. O eucalipto consegue substituir as madeiras de árvores nativas com uma boa qualidade. As empresas especializadas precisam possuir certificados de garantia do produto.
Segundo Santos, não dá para esquecer que a floresta de eucalipto é plantada e, por isso, não possui tanta diversidade quanto uma floresta natural. Mas pode diminuir esses efeitos com algumas medidas, como preservar áreas nativas dentro da propriedade e direcionar corredores de vegetação nativa na área de plantação, o que favorece a fauna local e ajuda o conjunto a ter um melhor equilíbrio. "Existe uma preocupação sobre a presença de fauna e inimigos naturais. O manejo é muito importante, até porque dentro de uma plantação de eucalipto não vai existir alimento. Ela oferece abrigo e lugares para a reprodução. Cuidados com a preservação de áreas nativas, de reservas legais, da mata ciliar, contribui para o equilíbrio da região", conclui. (JC)
Pinus: 80% de florestas plantadas
O eucalipto ainda perde em área plantada para o pinus. No Paraná, 2,8% do território está ocupado com florestas plantadas, sendo 80% pinus e o restante eucalipto. Esta espécie está ganhando cada vez mais espaço no mercado. Graças às pesquisas científicas e ao aprimoramento genético, o eucalipto está se transformando em um bom substituto para a imbuia, explica Roberto Gava, presidente executivo da Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal. Ele diz que espécies e culturas mais prejudiciais à natureza, como a soja, não recebem a mesma quantidade de críticas atribuídas ao eucalipto. "Já existe um apagão florestal no Paraná, de florestas plantadas. Se elas acabarem, vai se buscar madeira nas matas nativas. E não queremos isso", avalia Gava.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Luiz Carlos Reis de Toledo Barros, afirma que a utilização de eucalipto ainda é incipiente nesse setor, pois ainda está voltado mais para a produção de papel, celulose e carvão vegetal. "É uma madeira de difícil tensão, que cresce rápido demais e, por isso, apresenta rachaduras. É mais difícil de trabalhar, mas já existe tecnologia para isso", declara. O eucalipto pode ser transformado em chapas de fibras (MDF), madeira serrada para piso, componentes para móveis, lâminas para painéis estruturais para telhados (exportadas para os Estados Unidos), lâminas de madeira serrada para a construção civil, entre outros.
Para Barros, o eucalipto é uma espécie fantástica por ser de rápido crescimento. "Seria, para a indústria da madeira, uma ótima opção. O eucalipto pode ser utilizado em larga escala, mas isso depende dos órgãos ambientais, que precisam perceber esta oportunidade e parar de criticar. As entidades ambientais falam sem nenhum embasamento científico", opina. (JC)