Aproximadamente 14,3% da população de Curitiba assumem que consomem bebida alcoólica em excesso. A informação é da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde em 2011 e divulgada na última semana. O estudo mostra que pelo menos 23,3% dos homens afirmam ter consumido cinco ou mais doses de álcool em uma mesma ocasião enquanto 6,5% das curitibanas já beberam mais de quatro doses.
O índice não representa o número de pessoas que sofrem com o alcoolismo – não existem estimativas da incidência de pacientes com a doença em abrangência nacional ou estadual -, mas pode demonstrar que poucos percebem a influencia das bebidas alcoólicas em seu cotidiano. Em muitos casos, a demora em assumir a frequente necessidade de beber atrasa o início de um tratamento adequado contra a dependência.
“A gente sempre acha que isso não vai acontecer com a gente e nem acredita que seja uma doença”, afirma a professora Fernanda, de 29 anos, que começou a beber aos 12. A decisão de procurar um tratamento foi tomada sete anos depois do primeiro gole, quando já tinha desgastado muito sua relação com a família e os amigos. “Geralmente as pessoas não encaram o alcoolismo seriamente, acham que é coisa de gente sem vergonha”.
O técnico contábil Rubens, 47, também não percebeu o agravamento da doença, que só se manifestou aos 30 anos de idade. “O álcool é sutil. Quem tem predisposição para ser alcoólatra e gosta de beber vai sentindo vontade de experimentar cada vez mais. Até que chega o momento em que você não consegue mais trabalhar, estudar e nem se dedicar à família”, diz. Ele conta que não percebeu quando o álcool tomou conta de sua vida. “Achava normal e gostava de beber. Não pelo gosto, mas pelo efeito prazeroso. Aí vem a dependência, você sente a vontade e quando não é atendido, fica nervoso, se frustra fácil”. Quem deu início ao tratamento de recuperação foi sua esposa, que o indicou a irmandade Alcóolicos Anônimos (AA).
A batalha contra a doença vai além da decisão em parar de beber. Ela se mantém durante toda a vida do paciente. Para que determinação não se perca no meio do caminho, o lema da AA é um estímulo para que o combate seja diário: evitar o primeiro gole, ou seja, não beber só por hoje. “Esta é a regra chave. Evitando o primeiro gole você não inicia todo o processo. Os dependentes pensam que têm controle, mas acabam voltando para a mesma situação”, analisa a professora.
A estabilidade da abstinência demanda tempo e varia de acordo com cada paciente, que precisa do apoio da família e dos amigos. A abstinência física aparece nos primeiros meses e se manifesta, em geral, por meio de náuseas, dificuldade de concentração, insônia e tremedeiras. Superada esta fase, resta ainda a dependência psicológica, na qual o retorno ao consumo das bebidas alcoólicas é visto como a única solução para os problemas. “O maior erro é atribuir a felicidade ao álcool”, avalia Fernanda, que largou o vicio há 10 anos, depois que passou a frequentar as reuniões da AA. “Todas as coisas boas que conquistei aconteceram porque parei de beber. Não compensa perder tudo isso para voltar a beber”, comemora.
Superar o alcoolismo não significa deixar de levar uma vida social ativa, inclusive em ambientes onde há o consumo de bebidas alcoólicas quando o paciente já se sente seguro. É importante que cada um conheça seus próprios limites. Muitos evitam alimentos ou produtos que contenham álcool, como bombons, doces, vinagre ou até mesmo desodorantes spray, enquanto outros convivem sem problemas.
Rubens e Fernanda, por exemplo, não deixam de fazer o que gostam por conta do álcool, mas seguem até hoje com as reuniões na irman,dade. “Preciso lembrar que sou alcoólatra, que esta é uma doença incurável. Para isso, preciso permanecer conectado ao AA e assim”, conta Rubens, que deu seu último gole em 1998.