Uma pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Datafolha indicou que a maioria dos brasileiros é contra o projeto de lei do governo federal que proíbe palmadas, beliscões e outros castigos físicos aplicados a crianças. De 10.905 entrevistados, 54% afirmaram ser contrários ao projeto.

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Em Curitiba, a reportagem de O Estado foi às ruas e obteve a mesma impressão. Ouviu diversos pais e constatou que a maioria deles acredita que a chamada “palmada pedagógica”, dada de forma leve, no bumbum ou nãos mãos e sem machucar a criança, não é vista de forma negativa.

“Raramente precisei dar uma palmada em meus filhos, mas estaria mentindo se dissesse que, em última instância, nunca utilizei este recurso. É claro que não se deve agredir crianças, mas acredito que uma palmada fraquinha, para corrigir, é válida. Acho que o projeto de lei tem a intenção de evitar males maiores”, comenta o técnico Jairton Tszesnioski, que é pai de três filhos, de 18, 16 e 7 anos de idade.

A dona de casa Simone Nascimento é mãe de um menino de 15 anos e de uma menina de um ano e três meses e se diz contrária ao projeto. “É um absurdo os pais serem punidos por estarem corrigindo seus filhos. Sou totalmente contrária aos pais espancarem as crianças e acho que conversar é sempre a melhor solução. Porém, em alguns momentos extremos, em que o diálogo não funciona, a palmadinha é necessária e faz efeito”.

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Mãe de dois filhos adultos e avó de dois bebês, a dona de casa Olga Mastaler conta que, quando criança, recebia algumas palmadas e puxões de orelha da mãe ao fazer coisas erradas.

Com os filhos, ela foi mais tolerante, mas se lembra de também ter dado alguns tapinhas para fazê-los obedecer. “Tenho filhos excelentes e muito amados. Acho que umas palmadas foram boas na educação deles, assim como foram na minha”.

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Na opinião da profissional autônoma Sandra Pinheiro, mãe de filhos de 9, 16 e 22 anos, o mundo está tão violento não em função das palmadas que os pais dão nos filhos, mas sim em decorrência da falta delas.

“É muito complicado criar filhos e, com crianças, a gente não pode ser muito permissivo, pois elas não sabem até onde podem ir. Eu apanhei algumas vezes de minha mãe quando criança e não tenho raiva ou guardo mágoa dela. Sou grata por ela ter me corrigido e por hoje ser a pessoa que sou”.

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Educadores divergem sobre o tema

Mara Andrich

Se entre pais e mães a opinião é unânime, os educadores divergem quando se manifestam sobre o projeto de lei das palmadas. O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Ademar Pereira, diz que o projeto “é absurdo”.

“Ele tira a autoridade dos pais que devem ter a autonomia para definir como vão educar seus filhos. Não seria necessário uma lei para isso. Até porque já existem outras leis para tratar desse assunto”, afirmou.

Pereira preferiu não opinar sobre dar palmadas ou não, mesmo que sejam as “palmadas pedagógicas”. “Só sei que o governo não dá conta nem de proteger uma criança de rua, nem de dar escola para todos, e então resolveu fazer uma lei que não serve para nada”, afirmou.

Já a orientadora pedagógica do Ensino Fundamental do Colégio Positivo, Maria Fernanda Suss, faz uma reflexão sobre os motivos que levaram a se pensar em um projeto de lei como esse.

Ela também questiona como ficaria a autoridade dos pais. “Primeiro, é muito triste pensar que é necessário fazer uma lei assim, concluímos que a situação está bastante grave”, analisou.

Mas mesmo assim, para Maria Fernanda não é admissível que pais e responsáveis eduquem com palmadas. “Não adianta. Temos a certeza que o amor firme é o que dá resultado. É trabalhoso, tem que ter muita paciência, mas não podemos confundir a palmada com a contenção física. Em alguns momentos é preciso fazer a contenção física, ou seja, acalmar a criança corporalmente, mas sem bater, sem agressividade, apenas com a conversa”, disse.

O diretor do Colégio Martinus, João Francisco de Lima, completa dizendo que não cabe às escolas julgar se é necessário ou não uma lei que trate desse assunto. “Não cabe às escolas opinar. O que temos certeza é que é preciso educar com a palavra e o exemplo, e somente isso. Nós mantemos uma rotina de atendimento continuado com os pais. O princípio da não violência é o princípio da boa educação”, afirmou.