Depois de cinco anos, pesquisadores do Museu de História Natural de Curitiba conseguiram provar a existência de uma nova espécie de carrapato nativo da fauna brasileira, descoberta no Paraná. Trata-se do Ixodes paranaensis, o oitavo do gênero no Brasil, que leva esse nome em homenagem ao Estado.
A nova descoberta, fruto do trabalho do Laboratório de Parasitologia do Museu em parceria com outras instituições científicas, incluindo o Instituto Butantã e Universidade Federal do Paraná, está publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
O ácaro, que agora também faz parte de coleções internacionais, foi encontrado pela primeira vez nas grutas do Morro do Anhangava, Região Metropolitana de Curitiba em decorrência de pesquisa com uma ave silvestre.
“O carrapato utiliza como hospedeiro o andorinhão-de-coleira-falha, e tem todo o ciclo de vida atrelado ao ninho e a ave”, conta a bióloga do Museu, Márcia Arzua. Segundo a pesquisadora, a população da espécie é baixa e não parasita seres-humanos. Em dois anos de coletas foram capturados apenas 20 indíviduos.
Com tamanho máximo de quatro milímetros, a mesma espécie também foi constatada nas furnas de Vila Velha. Os dois ambientes são locais de procriação e dormitórios dos andorinhões. Por esse motivo, os pesquisadores consideram que a nova espécie é endêmica do Paraná e específico do andorinhão de coleira-falha.
“A ocorrência do Ixodes paranaensis pode estar relacionada ao clima frio e às cavernas de altitude desta região do Estado”, acredita a pesquisadora do Instituto Butantã Darci Barros Battesti. No próximo ano, o Museu de História Natural vai iniciar levantamento sobre a ocorrência de carrapatos em aves silvestres em duas regiões do Paraná: Norte e Vale da Ribeira.
“Existe um vácuo nas pesquisas que envolvem estudos de bioecologia de carrapatos na natureza no que diz respeito às espécies da região Neotropical, principalmente aquelas que utilizam as aves como hospedeiras para os estágios imaturos”, fala a Márcia Arzua.
Constatação
Para comparar a nova espécie com outros animais do gênero, os pesquisadores fizeram uma varredura pelas coleções de carrapatos do mundo. O paranaensis foi encaminhado para o doutor James E. Keirans, curador da maior coleção de carrapatos do mundo, que fica na Universidade do Sul da Geórgia, Estados Unidos.
No mundo são conhecidos aproximadamente 840 espécies de carrapatos. Do gênero Ixodes são 235 com o paranensis. O novo carrapato faz parte da coleção do Museu de História Natural de Curitiba, e outros exemplares foram enviados para depósito em coleções de outras instituições, incluindo a Universidade da Geórgia.
A pesquisadora do Instituto Butantã considera a descoberta uma grande contribuição para o mapeamento da fauna paranaense que pode ser muito útil em futuros projetos. Na natureza, os carrapatos estão inseridos na cadeia alimentar de vários animais, como aves, anfíbios e muitos invertebrados. Ainda de acordo com a pesquisadora do Butantã, em áreas protegidas existe um equilíbrio entre parasito e hospedeiro, que por sua vez contribui para manter ciclos silvestres.