Os números do Ministério da Saúde não deixam dúvida que o sobrepeso e a obesidade batem à porta dos lares brasileiros. Em Curitiba, os obesos já representam 16% de uma população em que metade está acima do peso, ou seja, com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 25. Os dados são frutos da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2011. A série histórica aponta aumento gradativo no número de pessoas com excesso de peso.
Para a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), o assunto deveria ser tratado como doença. Tanto que a entidade comemorou a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de manter a venda do medicamento à base de sibutramina. “A obesidade é doença grave, crônica e repleta de complicações, por isso, requer tratamento medicamentoso e com acompanhamento médico. No Brasil, são duas opções de tratamento. Se proibissem a sibutramina restaria apenas o orlistat (Xenical)”, defende a diretora da Abeso, endocrinologista Cintia Cercato.
Tratamento
Isso não significa que qualquer pessoa deva fazer uso do medicamento. “Não é para quem quer eliminar dois quilos, nem para pacientes hipertensos, com problemas cardiovasculares ou psiquiátricos”, alerta. Pelas diretrizes da Abeso, a sibutramina deve ser administrada para quem tem IMC acima de 30 ou acima de 25 e tem alguma doença. Já a cirurgia bariátrica é indicada para quem tem IMC acima de 40 ou de 35 no caso de alguma doença associada. “A cirurgia é a última opção, vem após a falência dos demais tratamentos”.
Redução de gordura e açúcar
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Cintia Cercato. |
O crescimento dos casos de obesidade reflete problemas sociais como falta de segurança, consequente sedentarismo e escolhas alimentares desastrosas. Essa última, segundo a endocrinologista, pode ser resolvida tendo em mente a redução de gorduras e açúcares e bebidas açucaradas, já que alguns sucos industrializados concentram níveis de carboidratos mais elevados que os refrigerantes.
“Arroz, feijão, salada e carne é a dieta mais equilibrada, porém, está se perdendo isso. Outro dado assustador é o consumo de óleo. Enquanto o recomendável é até um litro por mês para uma família de quatro pessoas, nas famílias de baixa renda se consome até oito litros no mesmo período”, conta Cintia Cercato. A diretora da Abeso também recomenda a educação nutricional das novas gerações. “Os índices de crianças entre seis meses e um ano que já consomem semanalmente macarrão instantâneo ou refrigerantes são preocupantes. Precisamos treinar o paladar para alimentação saudável e esses produtos vão na contramão de tudo isso”.
Mistura explosiva
Cintia também chama atenção para a combinação explosiva de gordura e açúcares. “Há indícios que a gordura aciona no cérebro o mecanismo de recompensa, fazendo com que a pessoa queria mais. Talvez isso explique a dependência de certas pessoas com o chocolate”. A endocrinologista considera irreversível o avanço dos alimentos ultraprocessados. “O problema não está na indústria, mas na falta de regras que exijam rótulos mais didáticos e permitam que as pessoas realmente saibam o que estão ingerindo. Não é todo mundo que sabe que açúcar é carboidrato”, exemplifica.