Pescadores da colônia de Paranaguá recebem alimentos. |
Os pescadores do litoral do Paraná atingidos pela proibição da pesca nas baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba ainda esperam a ajuda prometida. Ontem, a Defesa Civil entregou mais 500 cestas básicas para pescadores da região de Paranaguá. Para muitos, essa foi a primeira ajuda recebida desde a ocorrência do acidente com o navio chileno Vicuña – que explodiu há 23 dias na Baía de Paranaguá. A esperança agora é o repasse de recursos prometidos pelo governo federal e pela seguradora do navio.
O pescador Hamilton do Rosário José reclama que veio três vezes da Ilha de Medeiros para tentar levar os alimentos. "Isso aqui está mal administrado, pois estão fazendo a entrega primeiro para quem não precisa", reclamou. Wilson Sebastião da Silva também não estava satisfeito com a situação, pois garante que é a segunda vez que passa por dificuldades em função da proibição da pesca. Ele afirmou ainda que a sua família também está precisando de dinheiro para pagar as contas.
O presidente da Federação das Colônias de Pescadores do Paraná, Edmir Manoel Ferreira, afirmou estar havendo muita confusão no atendimento à categoria. "Vinte e três dias depois do acidente e eles ainda estão recebendo as cestas básicas", falou. Segundo ele, os pescadores têm a promessa do governo federal de receber antecipadamente o valor do seguro-defeso, bem como da seguradora do navio, que se comprometeu em repassar um salário mínimo para os 4.411 pescadores que foram prejudicados com o acidente.
Mas por enquanto, tudo isso não passou de promessas, já que não existem prazos para esses valores serem repassados. Por isso, a Federação dos Pescadores está fazendo uma campanha para a arrecadação de alimentos que serão repassados para as famílias. "Estamos pedindo para que a população de Paranaguá e de Curitiba nos ajude", disse Ferreira. O presidente da federação informou ainda que a entidade irá ingressar com uma ação por danos morais e perdas contra os envolvidos no acidente. "O salário mínimo e a cesta básica não vão calar nossa boca. Os órgãos ambientais aplicam multa e nós não recebemos nada", critica.
Shangri-lá
A portaria que proibiu a pesca no Estado refere-se às três baías atingidas pelo óleo, que continua vazando do navio. Porém essa medida trouxe prejuízos também para os pescadores que atuam fora da faixa da baía. No balneário de Shangri-lá, em Pontal do Paraná, os pescadores estão revoltados, pois não conseguem vender a produção. Na tarde de ontem, eles recolhiam todo produto para congelar e tentar vender durante a temporada.
O pescador Vanderlei Gonçalves conta que os poucos compradores que aparecem chegam ditando o preço. "Antes do acidente a gente vendia o quilo do camarão a R$ 4,50. Agora eles chegam e dizem que pagam apenas R$ 2", relatou. Outro problema, diz Domingos Tavares Filho, é que os pescadores do balneário forneciam produtos para revender em Paranaguá. "Mas agora ninguém quer levar, pois lá em Paranaguá acham que é produto contaminado", falou. Os pescadores dizem que é necessário esclarecer a população que o problema do vazamento do óleo atingiu apenas as baías e não afetou o litoral.
Outro caso, mesmo drama
Pescadores que desde a noite do último domingo liberavam a passagem dos veículos pela praça de pedágio próxima a Ponte Ayrton Senna, sobre o Rio Paraná, em Guaíra, sem pagamento encerraram às 18h de ontem o protesto. Os pescadores queixam-se da construção da ponte, que supostamente teria afastado os peixes do local e dificultado a sobrevivência de quem vive dessa prática. Com essa alegação eles exigem uma indenização de R$ 8 milhões, que deveria ser paga pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
A ponte foi construída em 1996 e desde então os pescadores pedem a indenização. Na tarde de ontem, eles se reuniram com o superintendente regional noroeste do DER, Osmar Lopes Ferreira, e resolveram liberar a cobrança de pedágio mediante acordo com o DER. "Eles deram o prazo até dia 20 de janeiro para termos uma posição definitiva sobre o indenização", explicou Ferreira.
Ele afirmou que um estudo sobre o caso está sendo feito pelo Núcleo de Pesquisas da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Só após a conclusão desse estudo o Estado decidirá se paga ou não a indenização.
Conforme Ferreira, está sendo feito um levantamento do prejuízo na praça de pedágio, mas ainda não há números finais. A Ponte Ayrton Senna liga os municípios de Guaíra, no Paraná, e Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul. (Lawrence Manoel)
Produtores querem indenização
Os produtores de ostras do litoral do Paraná deverão pedir indenização pelos prejuízos que terão com o acidente envolvendo o derramamento de óleo na Baía de Paranaguá. Hoje uma comissão irá colher amostras de produtos nas comunidades de Puruquara e Medeiros, em Guaraqueçaba, e de Amparo e Europinha, em Paranaguá. O objetivo é verificar se os cultivos de ostras estão ou não contaminados.
O engenheiro de pesca da Emater Paraná, Ivanildo Soares da Silva, disse que a análise do material passará por duas fases. Uma delas será uma metodologia adotada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que consiste em um teste sensitivo das ostras. A outra será uma análise completa de laboratório, feita em Florianópolis (SC), para identificar a presença de hidrocarbonetos. Os resultados devem sair em dez dias.
Mesmo que os resultados apontem que não houve contaminação da produção, o engenheiro comenta que as ostras não poderão ser comercializadas devido à portaria que proibiu a pesca nas baías.
Segundo Silva, só as quatro comunidades concentram 22 mil dúzias de ostras em fase de comercialização. Os produtos estavam sendo entregues por R$ 4 a dúzia, o que geraria uma renda de R$ 88 mil aos maricultores. Eles pretendem pedir indenização para a seguradora do navio chileno. (RO)