Os dados do questionário socioeconômico dos inscritos no vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontam que o sistema de cotas é realmente necessário para dar chances de ingresso aos afro-descendentes e aos candidatos oriundos de escolas públicas. A afirmação é do reitor da universidade, Carlos Moreira Júnior.
De acordo com ele, um dos itens que mais está relacionado com a aprovação do inscrito é o nível de instrução dos pais. A pesquisa indica que 43,2% dos candidatos não- cotistas possuem pais com ensino superior completo, enquanto o mesmo acontece com 17,12% dos afro-descendentes e 9,05% dos alunos da escola pública. “Quando os pais têm ensino superior, a chance de o candidato ser aprovado é maior do que aqueles cujos pais possuem o ensino fundamental e médio. Isso mostra que candidatos tinham mais dificuldade de entrar do que os não-cotistas. Realmente era uma concorrência desigual”, avalia.
Outro item importante é a renda mensal familiar do inscrito. Cerca de 15% dos não- cotistas estão em famílias que ganham menos de R$ 1 mil por mês, contra 45,2% de afro-descendentes e 54,52% dos provenientes de escolas públicas. O contraste está nos casos em que a família recebe mais de R$ 3 mil: 38,43% dos não-cotistas, 14,4% dos afro-descendentes e 5,37% dos candidatos de escolas públicas. “Esse item e o de formação dos pais são os que mais se aproximam da possibilidade de o candidato passar ou não no vestibular”, afirma Moreira.
Segundo o reitor, o terceiro ponto que gera mais preocupação é o fato de que 11,66% dos não-cotistas, 26,6% dos negros e 25,45% dos inscritos de escolas públicas vão precisar trabalhar integralmente durante o curso de graduação. “Nesse momento estamos negociando com o Ministério da Educação mais recursos para a concessão de bolsas de estudo. A UFPR fornece R$ 1,5 milhão por ano em bolsas, mas não é o suficiente. Achamos que no mínimo mais R$ 500 mil, totalizando R$ 2 milhões, dão conta do recado já para o próximo ano”, comenta. A ajuda permite que o calouro deixe de trabalhar e se dedique ao curso, não abandonando a universidade.
O questionário apontou que 24,37% dos afro-descendentes e 20,71% dos candidatos de escolas públicas cursaram o ensino médio no período noturno, o que mostra a necessidade de trabalharem durante o dia. “Por isso também precisamos ampliar o número de vagas em cursos noturnos. Hoje, 20% do total são à noite. O necessário seria 40%. Mas sem docentes não poderemos fazer isso. Anteontem, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, assinou a liberação de 2,5 mil vagas para professores nas universidades federais. Uma parte virá em março e a outra em novembro do ano que vem. Esperamos receber 70 vagas”, esclarece Moreira.
Escolha
A pesquisa mostra que apenas metade dos candidatos estão seguros quanto à escolha do curso para qual se inscreveram: 43,19% dos não- cotistas, 51,6% dos afro-descendentes e 48,38% das pessoas provenientes de escolas públicas. “Ainda necessitamos aproximar o ensino médio da universidade para que os vestibulandos conheçam nossos cursos. Senão, vamos continuar com aqueles que entram na universidade e acabam desistindo. A escolha precisa ser um processo mais maduro”, acredita Moreira, que aguarda o preenchimento total das vagas para as cotas (831 para negros e 831 para as escolas públicas).
O total de inscritos neste ano (44.698) diminuiu um pouco em relação ao ano passado (46 mil). O reitor atribui a redução à coincidência das datas de vários vestibulares pelo Brasil, o que diminui o número de candidatos que fazem as provas em vários locais. Os cursos mais concorridos este ano são Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, com 31,63 candidatos por vaga; Medicina, com 30,26; Comunicação Social – Jornalismo, com 27,63; Direito Diurno, com 25,73; e Direito Noturno, com 25,40 candidatos por vaga.