Foto: João de Noronha/O Estado |
Ignorando o aviso da placa, pedestres pulam a cerca para atravessar a via. continua após a publicidade |
– Atravesso direto, todo dia.
– Mas não é perigoso?
– É! Mesmo assim… atravesso.
– Por quê?
– Porque, como estou acostumado, tomo muito cuidado com as armadilhas.
O diálogo é entre a reportagem e o funcionário público municipal Jaime Figueiredo, flagrado atravessando uma das vias mais movimentadas do centro de Curitiba, a Travessa Nestor de Castro, longe da faixa de pedestres e sem utilizar a passagem subterrânea. A cena, entretanto, assim como a conversa, não são raras. O brasileiro conhece o Código de Trânsito, sabe que atravessar no local indicado é lei, mas, assim como tem certeza de que não há punição para o desrespeito, acredita também que nunca será vítima do trânsito cada vez mais violento das grandes cidades. Para os desavisados, um dado importante: a maior parte dos acidentes envolve imprudência de uma das partes. Nos atropelamentos, ainda que a culpa não seja do pedestre, certamente será ele a pagar o preço mais alto.
?Aqui é muito perigoso, mas principalmente para os idosos. Eles não atravessam pelo túnel porque têm problema de locomoção para descer e subir a escada. Por isso, preferem correr o risco?, continua Figueiredo. O pedreiro Antenor Bernardo, que anda devagar e diz sentir dor nas pernas, confirma: ?Mas só vou ali e já volto, senão tenho de dar a volta?, diz. Se precisar correr, ele admite: ?Daí é perigoso?.
Já o office-boy Diego José Bueno acredita que poderia haver mais faixas em locais estratégicos. ?Com a pressa, a gente nem se preocupa muito. Tem de ser rápido para pegar o ônibus?. Mas ele reconhece o perigo. ?Só aqui já vi dois atropelamentos. O problema é que acho que o brasileiro não tem essa cultura. A gente já não respeita quase nenhuma lei; para que então respeitar uma tão simples??.
Perto dali, no cruzamento entre as ruas Conselheiro Laurindo e Marechal Deodoro, o pedestre Carlos Rodrigues Alves, que corria para atravessar a via com o filho, levantava outra polêmica: o desrespeito do motorista quando vê o pedestre atravessando. ?Atravessei porque tinha menos carros. Atravessar na esquina sem semáforo de pedestre é sempre difícil. Aqui, é o pedestre quem tem de fazer a vez dele, porque a única coisa que o motorista respeita é o sinal vermelho?, critica. Problema semelhante o torneiro mecânico Valter Silva enfrenta diariamente, ao atravessar o cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava com a Rua João Negrão, onde não há semáforo de pedestres também: ?Geralmente é salve-se quem puder!?. A população é orientada a recorrer ao 156 nesses casos e cobrar do poder público a colocação do semáforo.
A lei
A aspirante do BPTran Caroline Costa lembra que o artigo 254 do Código de Trânsito de 1998 diz o que compete ao pedestre: ?Não pode andar na pista de rolamento, a não ser onde houver permissão, nem em viadutos ou túneis. Também não deve atravessar onde não houver sinalização específica ou fora da faixa?. No entanto, aplicar multas – que seriam de metade do valor de uma infração leve (50 Ufir) – não é usual. ?Preferimos orientar, mas infelizmente se tornou costume do pedestre cometer esse tipo de infração?. Este ano, foram registrados em Curitiba média de três a quatro atropelamentos por dia, a maior parte por imprudência do pedestre ou motorista.