Patrimônio abandonado em Curitiba

Uma das cenas mais corriqueiras em Curitiba é algum caminhão ficar preso no viaduto ferroviário da Rua João Negrão, mais conhecida como Ponte Preta. Pode até parecer folclórico, mas estes acidentes comprometem a ponte, tombada como patrimônio histórico do Estado. Além disso, o imbróglio da extinção da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) causou outro problema. Faz anos que a estrutura não passa por manutenção. A ponte está enferrujada, pichada, com os dormentes podres e ainda sofre com as agressões das batidas dos caminhões.  

A Ponte Preta pertence à massa falida da RFFSA, que passa por um longo processo de extinção. Todos os bens históricos e tombados poderão ser requisitados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura. No entanto, este processo não é simples. Todo patrimônio tombado precisa passar por uma avaliação técnica, que é enviada para uma comissão especial em Brasília. Somente após isso, o bem pode ser incorporado ao Iphan. Por sua vez, o instituto pode repassar o bem para outra entidade, que ficará com a responsabilidade de manter o patrimônio. Neste momento, a prioridade do Iphan é fazer o levantamento das estações ferroviárias.

Atualmente, a Ponte Preta está ?sem dono?.

Foto: Fábio Alexandre

Viaduto está danificado.

Foto: Fábio Alexandre

Carlos: ?Discussões?.

A RFFSA ainda é proprietária e responsável pela manutenção, mas a empresa está em processo de extinção. Isso inviabiliza qualquer tipo de projeto para a ponte. A regional Paraná da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) até procurou instituições públicas para a realização do restauro, conseguiu parceiros que bancariam a obra, mas tudo isso foi perdido devido a esse imbróglio. ?Mandamos correspondências para o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, o Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual. Faz anos que estamos brigando. Agora, a situação da ponte está sendo discutida no Conselho Estadual de Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico?, conta Carlos Dias Correia Augusto, diretor administrativo da ABPF/PR.

Para acabar com as batidas, uma das sugestões é elevar a ponte em 80 centímetros. O problema é que o tombamento histórico aconteceu pelo sistema construtivo utilizado na ponte. E ele se perde se a elevação for feita. O conselho estuda as alternativas para evitar a alteração na estrutura. ?Queremos esgotar todas as possibilidades antes de uma atitude radical. Pedimos ao Ippuc que sejam estudadas estas alternativas e que nos apresente um parecer?, afirma Rosina Parchen, coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura.

Ippuc está finalizando um relatório

O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) está finalizando o relatório sobre o viaduto ferroviário. O documento também será entregue ao prefeito Beto Richa. Isso deve acontecer até o final do mês. Até agora, a notícia não é boa. Será muito difícil colocar em prática qualquer tipo de intervenção alternativa. O Ippuc já havia proposto a elevação do viaduto ferroviário.

Uma das possibilidades era rebaixar a pista da Rua João Negrão. Assim, não seria necessário mexer na ponte, segundo Ricardo Bindo, da área de planejamento do Ippuc. ?Mas não seria viável. Seria uma obra muito grande, que interferiria até com a canaleta dos ônibus expresso da Avenida Sete de Setembro. E não é só tirar o asfalto. Tem que praticamente refazer a rua. Seria um custo altíssimo?, comenta Bindo.

Outra alternativa seria a instalação de uma sinalização eletrônica no local, que emitisse sons para alertar os motoristas. ?Não existe hoje no mercado uma opção como essa. O que podemos fazer hoje é sinalizar ainda mais a ponte ou continuar insistindo na elevação?, revela Bindo. Ele conta que a Prefeitura de Curitiba até se mostrou interessada em assumir a responsabilidade pela estrutura. Mas não é possível fazer nada por causa do processo de extinção da RFFSA. ?Enquanto não houver nada definitivo neste sentido, nem adianta a gente pedir?, esclarece.

Dentre as especulações sobre a Ponte Preta, da corrente que ?corre por fora?, está a retirada da estrutura da Rua João Negrão. ?Isto é uma aberração?, enfatiza Carlos Augusto, da ABPF/PR.

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