A médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, anunciou ontem, durante a 13.ª Assembléia Geral da Pastoral da Criança, que a religiosa Vera Lúcia Altoé irá substituí-la na coordenação nacional da entidade. O nome foi escolhido pelo novo presidente do conselho diretor da pastoral, dom Aldo Pagotto.
A saída de Zilda faz parte de uma mudança no estatuto da entidade, proposta por ela em 2005, e que prevê a troca do comando da Pastoral a cada quatro anos. Mesmo longe do cargo, a médica garante que irá continuar o trabalho de articulação e mobilização do voluntariado dentro da entidade, e atender a demanda de outros países onde a Pastoral atua.
Quando iniciou os trabalhos, com 48 anos de idade na cidade de Florestópolis, norte do Paraná, Zilda Arns pretendia salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e violência no contexto familiar. Baseou seu trabalho em ações comunitárias, voluntárias e na multiplicação de conhecimentos. Após 25 anos, Zilda comanda uma legião de 270 mil voluntários, que atuam em quatro mil municípios brasileiros e atendem 43 mil comunidades. A mesma metodologia é aplicada em outros 17 países da América Latina, África e Ásia.
Atualmente, a Pastoral acompanha 20% das crianças pobres do Brasil. Nesses anos de atividades conseguiu diminuir, nessa população, a mortalidade infantil de 85, por mil nascidos vivos, para 13, por mil. Já a desnutrição, que atingia 50% das crianças, caiu para 3,6%. Mas, segundo Zilda, um dos principais reconhecimentos da Pastoral diz respeito ao sistema de informação, que é considerado um dos mais eficientes pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para ela, o maior desafio da Pastoral será ampliar o número de atendimentos e conseguir mais voluntários. Diz que é preciso investir na educação para melhorar a saúde. ?Muitas crianças morrem por falta de informações da mãe?, argumenta. Ela defendeu escola de tempo integral, com atividades esportivas e culturais, para diminuir a violência entre os jovens.
A nova coordenadora nacional assumirá o cargo em fevereiro. Vera Lúcia promete dar continuidade aos trabalhos, afirmando que terá como desafio aumentar o número de crianças atendidas. A religiosa pertence à congregação das Irmãs da Imaculada Conceição das Castres, tem 51 anos e desde 1991 atua em favelas de Cuiabá (MT). Nos últimos quatro anos integrou como secretária, o conselho diretor da Pastoral da Criança.
Decreto está mal-elaborado
Zilda Arns considerou o decreto do governo federal, que muda as regras para a transferência de recursos da União para entidades, como mal-elaborado e fora da realidade. Previsto para entrar em vigor em janeiro de 2008, o documento prevê mudanças nas formas de prestação de contas e proíbe o repasse para entidades que tenham parentes em cargos públicos.
Zilda garantiu que irá conversar, na próxima semana, com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para sugerir mudanças no decreto. Afirmou que essas regras não ajudarão a acabar com a corrupção. ?Quem pratica corrupção não coloca nada no nome de parentes, substitui por laranjas?, observou. Zilda garantiu que pelo fato de o senador Flávio Arns ser seu sobrinho, nunca recebeu qualquer favorecimento do governo.
Em relação à prestação de contas, Zilda disse que a Pastoral nunca teve nenhuma conta reprovada. Entre outubro de 2005 a setembro de 2006, a entidade administrou um total de R$ 42 milhões de recursos repassados por órgão públicos e privados.
