Um lugar de contrastes tanto pela fauna que hospeda, com mais de 500 animais, quanto pelas pessoas que transitam por lá. Basta dar uma volta pelo Passeio Público para perceber que crianças trazidas pelos pais para visitar os animais compartilham do mesmo espaço que serve de ponto de prostituição de homens e mulheres ou para interessados em vender e consumir drogas.
Quem trabalha na manutenção se ressente do descaso dos frequentadores. Um funcionário, que não quis ser identificado, diz que quando perguntam com o quê ele trabalha, ele fala que com as fezes dos outros, já que as pessoas deixam os excrementos pelo chão e pela parede do banheiro. “Aqui é horrível, eu não traria meus filhos aqui”, comenta. O banheiro tem múltiplas finalidades, de local para travestis atenderem clientes até espaço para se deixar um bebê recém-nascido, como aconteceu no último dia 28 de junho e foi encontrado por uma zeladora.
Para o balconista da Cicles Jaime, Fernando Eduardo Paulino Rodrigues, a falta de segurança é a questão mais preocupante do Passeio. “Acontecem muitos assaltos e tem muitos moradores de rua que intimidam as pessoas”, conta. O pipoqueiro Argemiro Pedro Olívio, que há mais de 30 anos trabalha no passeio, também reclama do elevado número de moradores de rua no local. “No domingo piora, porque pela manhã tem gente que traz comida para distribuir. Surgem dezenas de pessoas que deixam tudo sujo”, relata. Mas a prostituição não o incomoda. “Trouxa é quem vai. Gente trouxa é vitamina de malandra”, dispara.
Prefeitura tenta valorizar local e pede ajuda dos frequentadores
O diretor do departamento de Pesquisa e Conservação da fauna, Alfredo Vicente de Castro, rebate as reclamações sobre segurança. “Temos um destacamento da Polícia Militar, o 12º Batalhão, dentro do Passeio”, aponta. Também enumera diversas ações de valorização do parque, como a reforma no aquário, que está prestes a ser concluída. “Atividades como a feira de orgânicos, por exemplo, tentam revitalizar sob diversas facetas o parque”. Sobre os moradores de rua, Alfredo diz que há muita confusão nessa generalização. “Tem pessoas humildes que vêm de outras cidades acompanhar pacientes nos hospitais de Curitiba e ficam fazendo hora no Passeio”.
A coordenadora do Resgate Social, Luciana Kusman, acrescenta que, em meio aos moradores de rua, existem pessoas envolvidas com drogas. “Tem quem se transveste para vender e outros ficam nessas condições para seguir sem tratamento”. Ela enfatiza que ajudar essas pessoas com comida, roupa ou dinheiro, na verdade, atrapalha. “Quem está na condição de rua tem resistência em seguir uma vida regrada e esse tipo de ajuda acaba impedindo que a pessoa busque uma vida digna”, alerta. (MM)