Pelo rápido preenchimento das vagas e a aceitação dos grupos que participaram, as visitas guiadas ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula têm público e conteúdo que justificam a continuidade nesse tipo de ação. A estranheza inicial na visitação é rebatida nos primeiros instantes do passeio de duas horas monitorado pela pesquisadora e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais, Clarissa Grassi. “As pirâmides do Egito nada mais são do que grandes monumentos que abrigam cadáveres e, mesmo assim, são visitadas há séculos”, considera.
O comerciante Nagel Rogério Yassim veio por curiosidade e saudosismo. “Fiquei surpreso com a quantidade de informação e beleza que podemos encontrar aqui. Vim porque tinha na lembrança o costume de brincar de esconde-esconde nas alamedas daqui”. Para a pesquisadora, que há 10 anos estuda o tema, os 51 mil metros quadrados do cemitério abrigam conteúdo de qualidade, que permite a criação de roteiros temáticos (arte tumular, moda, ciclos econômicos e de personalidade que vão desde milagreiros até políticos, empresários e artistas).
Pesquisa
“O São Francisco de Paula comporta perfeitamente o público que viaja o mundo em busca dessa forma diferente de conhecer a história da sociedade a partir da maneira como as famílias de diferentes gerações se relacionavam com a morte, a religião e como traduziriam isso ao homenagear o ente querido”, explica.
A pesquisadora, que em 2006 lançou o livro “Um olhar… A arte no silêncio”, sobre as obras encontradas no cemitério, vai lançar até novembro um guia de visitação sobre o local. “Já tenho 490 nomes pré-selecionados e cada um merece ao menos uma página para tratar da história de quem foi sepultado e da maneira como a família tratou o enterro”, justifica.
Projeto em estudo na prefeitura
As quatro visitas realizadas nesta semana fizeram parte das atividades programadas para marcar a Semana de Meio Ambiente. Clarissa Grassi diz que está em andamento prefeitura de Curitiba projeto de tornar periódicas as visitas ao São Francisco de Paula. “Mais do que resgatar a memória, as visitas guiadas são uma maneira eficiente de preservação e proteção dos túmulos e jazigos contra o vandalismo do qual os cemitérios são acometidos”.