O choque de um avião contra um pássaro, no último domingo, em Londrina, norte do Estado, levanta a questão da segurança quando há grande número de aves nos arredores de um aeroporto. Especialistas garantem que, apesar do risco de uma colisão, as aeronaves são preparadas para o impacto. Mesmo assim, o trabalho é assíduo para evitar esse tipo de incidente, que causa prejuízos ao setor e, dependendo da proporção, pode comprometer a segurança de vôo.
Na manhã de anteontem, o vôo JJ 3760 da TAM partiu de Londrina com destino a Campo Grande (MS) e, minutos após a decolagem, colidiu com uma ave e teve de retornar ao aeroporto. Segundo a companhia, apesar de haver possibilidade de o Airbus A320 continuar o vôo, os pilotos são orientados a pousar por precaução. Os passageiros foram alocados em outro vôo para o mesmo destino. No mesmo dia, à tarde, mais uma aeronave da TAM fez um pouso de emergência no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, pelo mesmo motivo.
As ocorrências trazem à tona um problema bastante discutido no meio aeronáutico, que implica em prejuízos bilionários para o setor em termos mundiais e riscos aos passageiros. Segundo informações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), no País esses acidentes ocorrem por conta dos lixões e aterros sanitários localizados nos entornos de aeroportos. As aves colidem contra turbinas, asas e pára-brisas, geralmente durante a decolagem. Somente em 2005, foram 480 casos do tipo comunicados ao Cenipa em todo o Brasil.
Segundo o piloto e coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Luiz Nogueira Galetto, que trabalhou 16 anos investigando acidentes aeronáuticos, cada região tem suas peculiaridades. Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, sofrem com os urubus; já no Paraná o maior problema são os quero-quero, aves bastante comuns nos aeroportos do Estado. ?Acidentes assim têm pouca probabilidade de acontecer, mas existem campanhas de prevenção. A Infraero atua com pessoal espantando as aves com foguetes de São João e promove campanhas para não colocar lixo nos arredores do aeroporto?, cita.
?Em um avião que voa a 500 quilômetros/hora, uma ave de dois quilos passa a pesar 14 toneladas?, calcula. Mas os aviões, em geral, são preparados para esse tipo de incidente. ?O avião tem força de decolagem mínima para sair do chão que equivale a voar com um motor só. Mesmo que uma ave entre em um dos motores, a aeronave pode voar normalmente e pousar com segurança.?
Se o motor pegar fogo, também há alternativa: ?O piloto tem comando de extintor para apagar e, ainda que falhe, há aviões que contam com um suporte para derreter os parafusos e soltar o motor?. Além disso, os pára-brisas hoje são mais reforçados e inclinados, amenizando os riscos. Galetto conta que, antigamente, as turbinas eram testadas utilizando-se de ?canhões de galinhas?, atiradas vivas contra os motores. ?Hoje não é mais permitido e nem mesmo necessário. Já existem dados suficientes para saber o perfil do motor.?