Às 20h, uma assembleia do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) na Praça Rui Barbosa vai tratar da negociação salarial da categoria. Como a folha de pagamentos representa quase 50% da tarifa técnica, o percentual de reajuste dos trabalhadores será decisivo para definir se a passagem do transporte coletivo vai subir ainda mais.
Desde a zero hora de hoje, quem anda de ônibus na capital está pagando R$ 3,70, um aumento de 12%. Porém, como a tarifa foi reajustada antes mesmo da definição da nova tarifa técnica, aquela que corresponde ao valor real de cada passageiro repassado às empresas de ônibus pela Urbs, ainda há o risco de nova alta da tarifa paga pelo usuário este ano.
Tudo depende da negociação salarial entre patrões e trabalhadores. A Urbs informou que usou como base para o cálculo da atual tarifa o último reajuste salarial de 9%, de março do ano passado. Porém, o Sindicato das Empresas de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) já apresentou uma proposta – rejeitada pela categoria antes da assembleia de reposição da inflação pelo INPC, que está em 11,27% (acumulado em 12 meses até dezembro de 2015).
Insuficiente
Em entrevista coletiva na sexta-feira, o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, disse que a empresa trabalha para evitar que o usuário pague mais que R$ 3,70. “Nós avaliamos e acreditamos que não exista esse risco (de mais aumento da tarifa)”, declarou. A nova tarifa técnica será anunciada no dia 26 de fevereiro. Está em R$ 2,90 e, de acordo com o sindicato patronal, mesmo com a elevação é insuficiente para pagar os salários dos trabalhadores.
Por conta do frequente atraso de salários de motoristas e cobradores, o transporte coletivo na cidade vem enfrentando várias greves ou paralisações parciais desde 2015. Para conseguir honrar a folha de pagamentos em dia, o Setransp estima que precisaria receber R$ 4 por passageiro.
Quatro valores pras linhas metropolitanas
A partir de hoje, a Coodenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) vai implantar quatro degraus tarifários na Rede Integrada de Transporte Metropolitana de Curitiba (RIT/M). Os valores variam de R$ 3,70 a R$ 4,70. Os usuários metropolitanos pagarão as novas tarifas somente para se deslocar de suas cidades de origem para Curitiba, onde poderão se integrar com as demais linhas do sistema sem pagar nova passagem. No retorno, pagarão a tarifa da Urbs (R$ 3,70).
O diretor-presidente da Comec, Omar Akel, explica que a adoção do degrau tarifário é necessária para garantir a integração e a justiça tarifária, já que o cálculo do valor da passagem considera a distância percorrida, o número de passageiros e os custos operacionais. A tarifa técnica metropolitana, que representa o valor real por passageiro, é de R$ 4,98, mas o subsídio estadual cresceu 30%.
Akel explica que, com a crise econômica, os custos dos serviços e insumos têm subido acima da inflação, enquanto a demanda tem sofrido redução expressiva. Atualmente, a RIT/M atende cerca de 4,8 milhões de passageiros por mês. O número de passageiros pagantes por quilômetro (IPK) da Região Metropolitana de Curitiba é de 1,38, enquanto o de Curitiba é de 2,19. “O IPK é fator determinante na definição da tarifa, pois quanto maior o IPK, menor ela será”, diz. Ele ainda ressalta que a desintegração financeira da RIT onerou de f,orma significativa a tarifa metropolitana, uma vez que a receita do retorno dos passageiros metropolitanos, que é de R$ 14 milhões por mês, fica com a Urbs.
“Salário não sobe igual”
Os usuários do transporte coletivo que aproveitaram o último sábado para recarregar o cartão pagando R$ 3,30 pela passagem não pouparam reclamações ao sistema. “É horrível”, disse a artesã Tânia de Oliveira. Ela, que usa duas passagens por dia, aproveitou ainda o preço antigo para recarregar cem passagens. “Trabalho por conta, tudo sai do meu bolso”.
O motorista Paulo Gusmão também criticou o reajuste. “O salário não sobe igual, né?”, comentou. Ele colocou R$ 50 em créditos e reclamou das condições dos ônibus. “Antes aqui era muito mais barato que a passagem São Paulo, mas agora tá quase igual”.
A comparação com a capital paulista também foi feita por quem preferiu recarregar o cartão transporte nas bancas credenciadas. “Eles falam que lá em São Paulo, se tem aumento, o pessoal briga, mas que aqui, nós aceitamos”, relatou Lindamir Assuti, dona de uma banca de revistas na Praça Rui Barbosa. As recargas do cartão transporte podem ser feitas na sede da Urbs, na Rodoferroviária, e em mais 22 endereços espalhados pela cidade.
Não-integradas: até R$ 13
As tarifas do transporte coletivo da rede não-integrada da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) também serão reajustadas a partir da zero hora de hoje. As tarifas são diferenciadas e, com a alta, variam de R$ 3,90 a R$ 13. Para calcular o percentual de aumento, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) estudou as planilhas de custo e considerou a distância percorrida, o carregamento de passageiros, o custo operacional e o equilíbrio econômico-financeiro do conjunto de linhas por empresas.
Subiram para R$ 3,90, por exemplo, as linhas que ligam a capital a Colombo, Campo Largo, Almirante Tamandaré. Linhas não-integradas de São José dos Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e Campina Grande do Sul vão para R$ 4. Já as rotas Curitiba/Itaperuçu e Curitiba/Rio Branco do Sul passam a custar R$ 4,10. Por sua vez, os itinerários Araucária/Campo Largo, Curitiba/Mandirituba, Curitiba/Contenda e Curitiba/Bateias (Campo Magro) sobem para R$ 5,70. As linhas não-integradas mais caras são os ônibus executivos Aeroporto/Centro e Aeroporto/Rodoferroviária: R$ 13.